Houve um tempo em que toda a minha vida cabia em uma mala de rodinhas. Azul, tamanho grande. Daquelas que a gente compra pra viajar de avião, sabe? Tudo cabia nessa mala. Bom, nela e em mim mesma. Tem coisas que a gente não leva debaixo do braço, mas sim dentro do coração. Por vários anos, todas as coisas necessárias para a minha sobrevivência eram assim, fácil de despachar, passíveis de serem acomodadas dentro de um único compartimento. Roupas, sapatos, livros, produtos de beleza, bijuterias, bibelôs, diferentes cores, tamanhos e importâncias.
Essa pequena coleção de objetos me fazia sentir leve. A mala era pesada, embora nunca tenha chegado ao limite dos 32 kg! Mas o seu significado era leve como uma pluma, porque me dava a certeza de que se as coisas dessem errado, era só guardar tudo e partir. E se tudo desse certo e mesmo assim fosse hora de mudar, a partida seria igualmente fácil e rápida. Essa mala azul me assegurava que com pouco eu ainda me sentiria em casa. Me libertava, me permitia usar meu tempo como eu quisesse, com quem ou como quisesse.
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Naquela época eu não conhecia muito sobre o que é ser minimalista, mas já empregava muitos dos seus conceitos em minha vida sem nem notar. O fato de ser viajeira ajudava a praticar o minimalismo quase sem perceber. Quando você quer percorrer o mundo, muita mala pode atrapalhar. Para sair por aí, sem rumo e sem mapa, pouco peso ajuda. Qualquer quilo extra é uma complicação! Então aprendi a ter menos coisas para levar e, assim, gastar menos tempo e energia com algo tão chato como bagagem.
Hoje, minha vida já não entra toda na mala azul. Na verdade, hoje acho que não conseguiria guardar tudo que tenho nem mesmo se tivesse três malas azuis. Com o crescer, novos sonhos apareceram. De repente, já não era mais tão importante percorrer o mundo, mas sim ter uma casa para onde voltar. Comecei a criar raízes e como resultado ganhei um lar, e esse lar é muito mais pesado que antes. Pratos, copos, panelas, toalhas, televisão, máquina de lavar, um gato. Remédios, cremes, roupas, sapatos, fotografias, livros, quadros, mesa de escritório, cadeiras, bicicleta. Ventilador, bolsas, colchão, decorações. E tantas coisas mais! Definitivamente, isso tudo não entra na mala azul.
Solução: ser minimalista!
De qualquer maneira, acredito que consigo ser minimalista dentro das minhas possibilidades – sempre tem como melhorar e é por isso que eu sigo o Becoming Minimalist e aprendo novas dicas o tempo todo. Mesmo assim, olho ao redor do meu pequeno apartamento e me sinto bem. Me sinto em paz. Não tenho taaanta coisa assim. Me permito alguns luxos que antes não tinha, é verdade. Mas estou longe de ser uma acumuladora. Tenho como me alimentar, como descansar, coisas para ajudar-me com o trabalho e coisas que me fazem sorrir. Todas terminam sendo prescindíveis, claro, já que podemos existir com bem menos do que pensamos.
O que realmente importa, na minha opinião, é a visão que a gente escolhe ter. Por isso, queria compartilhar três maneiras que ponho em prática para ver o mundo com olhos mais minimalistas. São comportamentos que começam na minha cabeça e que, aos pouquinhos, vão mudando meus hábitos e me permitindo ser mais feliz, com menos coisas.
1. Entendo que todas as coisas têm data de validade
Comprar muitas vezes é algo ilógico, pura ação sem fundamento. Compramos todo o tempo coisas que não queremos, só pelo simples prazer de comprar. Não são coisas que precisamos, longe disso, mas terminamos comprando mesmo assim. Às vezes parece que vamos no piloto automático, não é mesmo? Às vezes vem essa vontade danada de ter aquilo, uma urgência que se termina quando passamos o cartão ou abrimos a carteira e saímos da loja, sacolinha em punhos, um sorriso no rosto que logo vai desaparecer quando aquela coisa ficar esquecida num canto da casa, acumulando poeira.
Sair desse círculo vicioso requer consciência e força de vontade. Hoje em dia, eu procuro ser minimalista: pensar antes de agir por impulso. Quero estiver pensando em comprar algo, não posso deixar que isso se torne um ato irracional. Quero decidir cada coisa que compro e para isso antes preciso ter essa noção de que todas as coisas são sim prescindíveis. Elas vêm e vão, nenhuma é eterna. Em algum momento vão quebrar-se ou terminar-se. Se nem eu sou eterna, qual é o sentido de cercar-me de coisas ainda mais finitas?
São as coisas que não podemos ver que realmente ocupam um espaço duradouro. Felicidade, saudades, amor, compaixão, tristeza. Todos esses sentimentos que ninguém pode ver, mas que ferem e enaltecem com tamanha força que é impossível desvencilhar-nos deles. São nossas emoções que vão nos acompanhar para toda a vida. E, olha só que sorte: não precisamos de espaço físico para gerar esses sentimentos infinitos. E quanto mais tempo passo preocupando-me com as coisas concretas que tenho, menos tempo tenho para saborear todas essas emoções.
2. Compartilho o muito ou pouco que tenho
Quando pequena, sempre escutava que tudo fica mais gostoso quando a gente divide. Com base nessa premissa, eu e meu irmão dividimos muitas coisas. Brinquedos, livros, doces, presentes. Começamos dividindo coisas e um quarto e terminamos compartilhando também sonhos, medos, ideias, segredos. E embora cada objeto que compartilhávamos terminasse se gastando muito mais rápido, os laços que nos uniam somente iam ficando mais fortes. Engraçado, não? Mas é verdade que dividir algo te aproxima das pessoas, te ajuda a entendê-las e amá-las. É quase como se o valor que você dá para a coisa em si se transformasse em mais atenção, carinho e amor pela pessoa envolvida.
Dividir me faz ser menos consumista. Me faz ver que as coisas são menos importantes que as pessoas e o que vivemos juntos. Me ajuda a ser mais minimalista – mais saudável, física e emocionalmente. Cada vez que meu namorado pega uma batata frita do meu prato, eu sorrio. Cada vez que empresto uma roupa ou maquiagem a uma amiga, eu sorrio. E sorrio também quando divido um livro com minha mãe e logo nos sentamos pra conversar sobre a história. Dividir é, de uma maneira, igual a multiplicar. Divido coisas, compartilho histórias para contar.
3. Priorizo gastar em momentos que em coisas
Eu tenho que confessar que sou meio mão de vaca e tenho orgulho disso. Só economizando pude viajar por 10 países e conhecer os lugares incríveis que conheci. Infelizmente, muito da nossa vida depende da nossa capacidade financeira. E como eu não quero que minha vida gire em torno de ganhar dinheiro, preciso me virar com o que tenho. Não que seja pouco – na verdade eu sempre tive a sorte de ter uma vida confortável. Mas tampouco tive dinheiro sobrando e acho que prefiro assim. Porque ter menos me ajuda a ver mais longe. Me ensina a priorizar, a fazer planos e saber o que e quanto preciso economizar para realizá-los.
Eu poderia ter trocado meu computador esse ano, mas preferi viajar para estar com meu irmão quando ele se formou. Eu poderia ter comprado um casaco a mais para esse inverno, mas preferi gastar o dinheiro convidando meus amigos para celebrar meu aniversário. Eu poderia ter comprado algo completamente dispensável e fútil, mas preferi investir meu dinheiro e tempo compartilhando algo lindo com alguém especial. A conta se torna muito mais simples quando comparamos coisas com experiências. Não é tão difícil assim de saber o que vai em primeiro lugar.
O caminho para ser minimalista
Ainda tenho muito por aprender. E obviamente tenho ambições materiais. Quero ter um MacBook, uma bota nova, mais livros do que posso ler. Mas, cada um desses objetivos está controlado. Um dia, eles virão. Ou talvez não. E está tudo bem. Mas existem outras coisas que são fundamentais para mim e essas sim são minhas prioridades. Minha paz, alegria e bem-estar, meus e das pessoas que amo, disso sim eu não vou abrir mão, porque essas coisas são realmente insubstituíveis. Coisas, vão e vem. O que a gente é e sente, isso não é tão fácil de mudar. Então, sigo a vida assim, tentando possuir só o que realmente importa e acumular tudo o que é indispensável de ser sentido. Não limpando, dobrando, guardando, tirando do lugar, voltando a por. Não acumulando, enchendo, lavando, secando. Mas sim sonhando, criando, imaginando, sorrindo, caminhando, vivendo.
O artigo está brutal! Parabéns pela forma como exprime aquilo que sente! As dicas são simples mas bem práticas e creio que ajudarão quem, como eu, quer tornar a sua vida bem mais leve e pragmática!
Gratidão <3
Obrigado pelo carinho Inês, Bom que todo esse conhecimento e reconhecimento não reconhece fronteiras.
O seu relato me fez um convite para rever e refazer os meus pensamentos. Muito obrigada.
Você me emocionou com sua história. Também quero isso pra mim o prazer de ajudar a quem precisar, experiências poder contar, e acima de tudo poder exalar o amor através do escrever e do falar. Beijinhos
Maravilha quanta alegria ler seu relato, obrigada por compartilhar.
Já me sinto um pouco minimalista, lendo esse artigo, gostei muito e me leva a reafirmar esse estilo de ver a vida e viver assim, viver com o essencial e bem.