Mudanças de rota são necessárias, e muitas vezes, obrigatórias. Li infinitas histórias de pessoas que largaram tudo e “resetaram” completamente. Quando finalmente chegou a minha vez, (leia-se, quando tive coragem), a vida e a natureza me mostraram que idealismo não paga contas. Era preciso mais que isso: encarar meu “dark side” e ter disposição real para me superar.
Há pouco mais de dois anos, iniciei uma parceria com uma propriedade rural para produção de hortaliças orgânicas. Saí de uma multinacional e coloquei o pé na terra. Sintetizei esse aprendizado em 7 lições, e descobri que trabalhar diretamente na natureza é uma lição de humildade.
1 – A importância da parceria: Introvertida e “pseudo” auto-suficiente, sabia que daria conta de boa, afinal vivi uma imersão nos estudos e apostilas. Na primeira “enxadada”, percebi que tinha muito o que aprender nessa vida. Pedi ajuda não só para capinar, mas para tudo! Parafraseando minha mãe, “a teoria é prata, a prática é ouro”.
2 – A Natureza é soberana: Meu primeiro plantio foi rabanete. Dessa colheita viria meu salário. Foram dois canteiros inteiros somente dessa variedade. De repente me vi na incômoda situação de “exigir” da terra meu sustento. Cada rabanete gigante era uma alegria, e cada um que vinha rachado uma preocupação. Quem determina o que acontece é ela, a Natureza. Coube a mim agradecer e me encaixar no que ela oferecia.
3 – Todo mundo gosta de carinho e atenção: Minha avó conversava com as roseiras e minha mãe troca ideia com as jardineiras. Eu achava graça. Qual não foi minha surpresa quando ao dar mais atenção aos rabanetes que a rúcula, essa última não desenvolveu legal? Tinha tudo a favor, menos minha atenção. Depois que uma moradora me explicou que não bastava regar, assumi minha total ignorância e virei o jogo!
4 – Caipira way of life: “Ah…a vida na fazenda é uma poesia!”, ironiza uma amiga que nasceu no campo. Sábia, conhece de cadeira a dureza dessa vida. Pela ausência de defensivos na cultura orgânica, tudo é manual, ou seja, o controle de mato é “no braço”. Haja força e resistência! Não raro, foi o pessoal da roça que me socorreu quando desesperada, vi o mato crescer “loucamente” de um dia para o outro. Essa mão de obra é invisível para quem consome. Precisamos dar o devido valor ao trabalhador rural!
5 – Clientes, esses seres exigentes: Acostumada a lidar com demandas urgentíssimas vindas de várias partes do mundo, achei que trabalhar com um produto “do bem” seria “bolinho”. No way! Clientes são clientes. Bati o pé, fiz cara feia, mas acabei entendendo o óbvio: Aprender a ouvir. Até porque, em qualquer situação fora da minha horta, eu também sou cliente.
6 – O fator dinheiro: Sempre tive aversão ao lucro. Na disciplina de marketing da faculdade aprendemos as “técnicas” para vender mais, para lucrar mais, para “criar” necessidades. Horrorizada é o mínimo. Aprendi nesse primeiro negócio “verde” que o dinheiro não é um “mal necessário”, mas sim uma ferramenta. Ser sustentável não é apenas reciclar o lixo. É também saber sustentar o seu negócio. Trabalho traz um valor e esse valor traz lucro. Realizado de forma ética e transparente, é possível se relacionar com o dinheiro em paz.
7 – Saber a hora de parar: Ouvi em algum lugar que “o bom empresário é, principalmente, aquele que sabe a hora certa de parar”. Mesmo apaixonada pela natureza, não tenho ainda as habilidades necessárias para tocar um negócio “verde-pé-na-terra”. Cultivar uma horta caseira e cuidar de um jardim sempre farão parte das minhas atividades, mas promover esse prazer ao status de “negócio” não é meu perfil. Reconheci que não basta amar a Natureza, é preciso ter “jeito” para a coisa. Gratidão eterna à essa experiência…e vida que segue!
Se você estiver pensando em cultivar uma horta orgânica como uma profissão, saiba que terá toda minha compreensão e respeito! Sou uma fervorosa incentivadora da vida no campo e acho fundamental essa experiência. Afinal, a Natureza é nossa grande professora. A todos vocês, sucesso e (muita) paciência!
*Imagens: Acervo pessoal.
Artigo muito bom e real…sei bem como é isso…
Oi, Alessandra! Vem ajudar em minha horta orgânica, pode ser? No estado do Rio de Janeiro, perto da capital. 🙂
Rsrs…Deve ser o maior calorão aí no Rio! Vai com fé que você consegue! 🙂