Há cerca de 40 anos, diversas cidades europeias e americanas iniciaram suas pequenas revoluções ciclísticas. São inúmeros os relatos sobre como as iniciativas que promoviam o uso da bicicleta como meio de transporte foram combatidas por cidadãos que não as compreendiam. Mas o passo ao futuro foi dado de forma definitiva e, hoje, os habitantes dessas cidades colhem os frutos. O que dizer do Brasil, onde as pessoas costumam dizer que “na Europa ou nos Estados Unidos tudo funciona”?
De uns anos para cá venho utilizando a bicicleta com cada vez mais frequência no dia a dia. Às vezes meu carro passa dias sem sair da garagem. Às vezes não vou de bicicleta, mas de ônibus. Ou táxi. Isso representa um ganho não só para mim, mas para a cidade onde vivo, Niterói. Por incrível que pareça, por aqui a relação é de um carro para cada 1,88 habitante. Segundo dados do Denatran e do IBGE, a cidade tem mais carros por habitante que São Paulo, Rio e BH. Entre as capitais, só perderia para Curitiba, que, todos sabem, é uma referência nacional em termos de mobilidade. Niterói não é uma capital, tem um território relativamente pequeno, IDH alto e muitos problemas de mobilidade. Os esforços da prefeitura são insuficientes e marqueteiros, e emperram na burocracia e má vontade dos diversos órgãos e secretarias oficiais.
Guardadas as proporções, a São Francisco, EUA, da década de 1990 também tinha problemas de mobilidade. Até que uma pessoa teve a ideia de sair da invisibilidade da bicicleta perante o trânsito e, ao lado de outros ciclistas, ocupar o espaço público formando um grande grupo, uma verdadeira massa de bicicletas que não poderiam ser mais ignoradas. Por meio do boca a boca, de panfletos xerocados na máquina da empresa, de cartazes feitos à mão e colados em locais de grande circulação de pessoas, criou-se uma “coincidência organizada”. Num dia, horário e local determinados, 60 ciclistas se reuniram ao “acaso” para pedalar juntos. Nascia a Massa Crítica.
Desde então o movimento se espalhou pelo mundo, reunindo centenas de ciclistas uma vez por mês para pedalar, inclusive lá na Alemanha, onde estão a Lara e o Emi. As Massas Críticas não são um movimento institucionalizado, com estatutos e lideranças. Geralmente assumem a “personalidade” dos indivíduos que se propõem a organizar em sua cidade, levantando diferentes bandeiras e arregimentando um público diverso. Em comum, apenas um desejo: que todas as cidades sejam cicláveis, “com menos motor e mais amor, menos gasolina e mais adrenalina”.
No Brasil, de norte a sul, diversas cidades têm sua Bicicletada Massa Crítica. No Rio, os eventos ocorrem às sextas-feiras – o que é uma tradição –, por bairros diversos, cobrindo as regiões da cidade. E em Niterói, onde até o mês passado ocorria apenas uma Bicicletada no Centro, um novo evento surgiu, na Região Oceânica.
É aqui que entro na história. Há bastante tempo acompanhava notícias da Massa Crítica, conversava com amigos que frequentam o evento, mas não participava por motivos diversos e até certo desconhecimento. Até saber que essa nova Bicicletada estava sendo organizada. Me senti motivado a participar de uma maneira diferente. Talvez por estar sentindo na pele as precariedades para o uso da bicicleta nessa região. Talvez por desejar pedalar com meu filho, ainda bebê, por vias seguras. Talvez por querer ser a transformação que desejo para o meio onde vivo.
Não sei. O fato é que comecei a participar junto com outros ciclistas empolgados. Com a ajuda e orientações do pessoal da Bicicletada do Centro, fui à rua colar cartazes e distribuir panfletos. Divulgamos entre amigos pessoalmente e nas redes sociais. Conversamos sobre os gastos com material e como levantar uma grana para cobri-los. E curtimos juntos a ansiedade pelo evento.
Paralelamente, fui pesquisar mais um pouco a Massa Crítica, reli textos, encontrei novos artigos, assisti a vídeos… E entendi alguns tópicos que ainda não estavam claros. Fiz as pazes com minha incompreensão.
No dia, horário e local marcados, a “coincidência organizada” aconteceu. Fizemos uma bela pedalada pela região, cortando a via principal, de alta velocidade, a no máximo 10km por hora. Havia um certo receio sobre como os motoristas reagiriam a essa grande massa de ciclistas ocupando aquilo que eles consideram como “seu espaço”. Mas a receptividade deles foi ótima, assim como dos pedestres e moradores em suas janelas. Tudo transcorreu sem incidentes. Sucesso total.
A melhor sensação de todas foi experimentar o poder de exercer meu direito de ocupar as ruas com meu veículo – a bicicleta.
E você, está esperando o que para organizar a Bicicletada Massa Crítica da sua região?
P.S. Dever cumprindo? De forma alguma! Daqui a pouco estou saindo para a primeira plenária da Bicicletada Massa Crítica da Região Oceânica de Niterói, grupo que está se formando para dar continuidade à iniciativa.
Para saber mais sobre a Massa Crítica:
No Facebook: clique aqui
Texto “Como fazer uma Massa Crítica”, no blog da Massa Crítica de Porto Alegre: clique aqui
Estou encantada…Abraços!!!
Agradecemos pelo carinho.
Olá! Cheguei até aqui porque minha prima, que mora em Berlin, sabendo que participo das bicicletadas no Rio, compartilhou essa matéria na minha timeline. É minha primeira vez no site e foi ótimo saber que o interesse sobre mobilidade por bicicleta só aumenta!
A Bicicletada, que estava restrita ao Centro (Cinelândia), agora conta edições em diversas regiões da cidade: zona oeste (freguesia), zona norte (méier) e, mais recentemente Niterói. Dela também derivam outros movimentos, reuniões e ações. Pra exemplificar alguns deles temos a plenária ciclística rj (1ª edição neste mês), oficinas gratuitas (roda livre), pedal sonoro (niterói) e a bicicletada pelada (World Naked Bike Ride).
Importante notar que o número de pessoas usando a bicicleta como meio de transporte vem aumentando. Algumas políticas públicas acenam nesse sentido, ainda que tímidas.
Ciclistas pedem por mais segurança no trânsito, compartilhamento das vias, bicicletários e até o metrô liberou o acesso em dias úteis, a partir das 21h. É um movimento sem volta, a demanda é crescente.
Assim como você, também venho do Cachambi. Faço meu deslocamento pela cidade de bicicleta. As distâncias estão cada vez mais curtas, dependo menos do transporte público (ônibus, por ex), conheço lugares que não conheceria se estivesse de carro e ainda perdi alguns quilos (rs).
Volto a dizer que é uma mudança que não tem mais volta. As magrelas vieram pra ficar. É esperar pra ver!
Mais informações:
Página grupo Bicicletada: https://www.facebook.com/groups/129923447118536/
Bicicletada Centro (última sexta cada mês) – edição apoio ciclovias de sampa: https://www.facebook.com/events/394683364045391/