*Por Fabiola Peron
Andando pelas calçadas do bairro onde moro comecei a notar a variedade de plantas que brotam de minúsculos vãos e me lembrei que muitas delas são comestíveis e são muito saudáveis. Incrivelmente, elas são tratadas como pragas e quem acaba perdendo com isso somos nós.
Conhecidas como PANCS, Plantas Alimentícias Não-Convencionais, a coleta e produção dessas plantas, que já foi praticada há milênios, foi descartada e esquecida, sendo substituída por plantas não nativas e que muitas vezes não tem a mesma expressão nutritiva e medicinal das PANCS.
Muitos dos vegetais e hortaliças que incorporamos aos nossos hábitos alimentares foram importadas dos mais diversos países e, por não serem nativos, precisam de muito cuidado e dedicação, além de altas doses de agroquímicos, fertilizantes e irrigação extra para terem uma boa produção. Já as plantas comestíveis não-convencionais, por serem em sua maioria nativas vigorosas, crescem livres, belas e sem grandes esforços. Elas nascem a partir de sua própria vontade, identificando o local e momento certo para brotarem. A variedade de PANCS é imensa e nesta lista estão inclusas flores lindas, comestíveis e espontâneas! Maravilha, né?
Mas e aí, o que pode comer?
Aqui vai uma pequena lista dessas plantas. Para quem quer saber mais o Ministério da Agricultura, Pecuaria e Abastecimento disponibiliza uma cartilha com todas as variedades de hortaliças não convencionais, que voce encontra clicando aqui.
Serralha
Sonchus oleraceus
A Serralha é uma erva encontrada em quase todo o mundo. É rica em vitaminas A, D e E; é amarga e seu sabor lembra o espinafre. Pode ser usada em saladas e refogados e também é utilizada com fins medicinais, estimulando o bom funcionamento do fígado e da vesicular. A serralha limpa as impurezas do sangue, psoríase e eczemas em geral. Fortalece a vista, os nervos e o estômago.
Beldroega Grande
Talinum paniculatum
É uma planta de propagação fácil e espontânea. Possui mais ferro que o espinafre e suas folhas mucilaginosas são ótimas para o estômago e intestino. Pode ser feita refoga, crua nas saladas, recheando tortas, junto aos cozidos ou em omeletes.
Azedinha ou Trevo
Fam. Oxalidaceae
É uma planta rica em ácido oxálico (caso também do espinafre e do brócolis) e por isto não deve ser comida aos montes. O seu sabor ácido é muito agradável. Contra as inflamações intestinais e da bexiga pode misturar algumas folhas frescas à salada. As folhas são ricas em vitamina C e muito eficazes contra a constipação.
Capuchinha
Tropaeolum majus
As folhas e flores podem ser consumidas em saladas, tornando o prato muito bonito e atrativo, além de delicioso. O nome “flor-do-sangue”, que também é um dos nomes populares da planta, provavelmente surgiu da fama que a planta adquiriu como anti-anêmica. Além de suas propriedades antibióticas é usada como diurética, depurativa, antisséptica e no tratamento de afecções pulmonares ou das vias urinárias. Por conter uma enzima, a mirosina, que queima as gorduras, a capuchinha é excelente auxiliar nos regimes de emagrecimento, exercendo ao mesmo tempo uma ação tonificante em virtude da sua riqueza em vitamina C.
Caruru
Amaranthus viridis L.
Parente da quinoa o caruru é muito nutritivo e todas as partes são comestíveis. É um alimento rico em ferro, potássio, cálcio e vitaminas A, B1, B2 e C. Tendo funções medicinais como lactígeno, combate também infecções e problemas hepáticos. As sementes podem ser ingeridas torradas, em pães e como cereal. As folhas podem ser usadas como saladas, refogados, recheios e patês.
Flor de abóbora
Uma das doces lembranças que tenho da infância é que minha avó preparava deliciosas flores de abóbora empanadas com açúcar e trigo. Além dessa iguaria as flores de abóbora podem ser utilizadas em diferentes pratos como sopas, guisados, em saladas, fritas e em feijões cozidos. Essa linda flor é rica em cálcio, ferro, magnésio, potássio e fósforo. Vitaminas A e C também estão presentes, assim como B1, B2, B3 e B9.
Taboa
Typha domingensis
Essa é a minha preferida. Além de sua fibra ser durável e resistente e ser utilizada como matéria-prima para artesanato a taboa é uma depuradora de águas poluídas, absorvendo metais pesados. Quando jovem todas as partes da taboa são comestíveis. Os brotos, crus ou cozidos, se parecem com palmito. Esses brotos também podem ser secados e moídos e transformados em uma espécie de sal ótimo para pessoas hipertensas. A espiga é rica em proteína e pode ser cozida ou assada, usada para fazer sopas, purês e até chocolate. O pólen, que fica na parte superior da planta junto da espiga, é rico em vitaminas e pode ser comido natural ou preparado como farinha. A raiz é recomendada ser servida cozida, e possui teor de proteína igual ao do milho e teor de carboidratos igual o da batata.
Uma das preciosidades que encontrei também foi esse Livro de Receitas, lindo e com receitas feitas a partir das plantas não convencionais. Fruto do coletivo Biowit.
Vale lembrar que todas essas plantas só devem ser consumidas com muita segurança para não se intoxicar com nenhuma planta similar que possa ser perigosa. E, como qualquer outra hortaliça, só devemos nos alimentar dessas plantas se forem colhidas em locais não contaminados, livres de agrotóxicos e venenos.
Aí sim, pode comer!
Fabiola, adorei essa matéria! É incrível como nos acostumamos a comer sempre o convencional e deixamos de lado estas maravilhas que crescem por todas as partes! Muito obrigada por disponibilizar o link com a cartilha. Grande abraço!
Que bom que você gostou. Agradeço pelo comentário e espero que ajude com novas opções de alimentos. Abraço!
Fá, ficou sensacional esse post! Adorei!!! Parabéns!!!! Beijos
Muito interessante o texto. Muito mesmo. Fiquei muito curiosa em saber essa receita da flor de abóbora frita com açucar e trigo. Adoraria saber os detalhes dessa receita sua.
Oi Regiane! Fico feliz que você gostou do texto. Bom, segue a receita, que eu adaptei da receita da minha avó!
Flor de abóbora frita
Ingredientes
Flores de abóbora (+ ou – 10 flores)
2 ovos (batidos com um garfo)
2 colheres de açúcar cristal ou demerara
1 xícara de farinha de trigo integral
Óleo para fritar (com óleo de coco fica mais saudável e mais aromático)
Modo de preparo
Primeiro lave as flores cuidadosamente e deixe secar. Bata os ovos em uma tigela com o açúcar, até que o açúcar se derreta.
Passe as flores primeiro no ovo batido, depois na farinha de trigo.
Aí é só fritar no óleo bem quente, escorrer em papel toalha para tirar o excesso de óleo e se deliciar!
Sabe que me deu uma vontade e uma saudade… Faz tempo que não como as flores assim.
Abração
a https://jardimdomundo.comrei todo o site muito obrigada
pela partilha da vossa informação.
Matéria muito bem elaborada, parabéns.