Ninguém está a passeio por aqui. Estamos numa jornada que contém propostas interessantes de ocupação. Algumas mais elevadas, outras nem tanto e muitas delas, obrigatórias e desgastantes.
Correr virou sinônimo de agilidade, de dinamismo, de potencialização de talento. Ocupar-se sempre e constantemente é quase que regra ditada para a famosa meta do ser “bem-sucedido”.
Ocorre, que nas aventuras necessárias e também nas desnecessárias da vida, colocamos uma quantidade de energia imensa em prol do aprender e do fazer. Quase sempre mais do fazer para aprender.
Atualmente são tantos temas interessantes a se estudar. Há uma quantidade incontável de cursos e formações e não que isso seja ruim, mas, numa reflexão profunda e desinteressada dos títulos que são solicitados constantemente para o exercer de nossos papeis sociais, pergunto: “o que de nossa sabedoria inata, utilizamos realmente, com honestidade e liberdade?”. Consideramos as memórias de um saber fazer que já trazemos conosco ou descartamos um insight por julgar loucura ou fora dos padrões da moda?
Ainda que estejamos numa jornada diária de aprendizado e que elas favoreçam o desabrochar de talentos, permitimos realmente que os talentos mais orgânicos e originais brotem ou os encaixotamos de uma forma que se conceda apenas um preço ao fazer e um sustento a nossas vidas num âmbito mais materialista?
Estamos conscientes ou iludidos?
Sonhar e fazer dependem de fluidez
Quando há o sonho, há uma faísca esperando continuidade. É certo!
Nem sempre a continuidade vem e muitas vezes, quando vem, traz consigo uma pressão absurda de metas e gestão do tempo. Obviamente que metas e gestão do tempo são necessárias a uma realização pautada em ações organizadas. No entanto, existe uma diferença interessante entre metas possíveis e simples e “metas”. Bem como, existe uma grande diferença entre gestão sábia e saudável do tempo e “gestão do tempo”.
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Que diferenças são estas que permeiam uma coisa e outra?
A meta possível e simples se refere ao que podemos fazer a partir do que temos, ali, primeiro em nós, no nosso cotidiano, abrangendo aos poucos o que nos rodeia. Inclusive, de uma maneira lúdica, interessante e bem distante da projeção de expectativas. Quando estabelecemos que o possível é um passo importante, chegamos no tal … “impossível” que quase sempre queremos buscar primeiro.
Muitas vezes, nos projetamos lá, bem longe e quanto mais longe, maior a corrida. Para correr, é necessário preparo. Eis o problema das metas engajadas no entusiasmo sem concentração, impulsivo e apenas com foco no preço.
A meta simples e possível nos prepara pouco a pouco, nos traz aprendizados fluídos, leves, mas de muita, muita profundidade e grandiosidade. São esses aprendizados considerados “comuns”, que favorecem o uso de nossa sabedoria inata e cheia de vitalidade. É o uso de nossa originalidade, portanto, o que brota daí, tem valor. O preço? Vem do valor que algo tem.
A gestão sábia do tempo envolve espaços de ócio criativo, contemplação, descanso. Fazer uma boa gestão do tempo nunca foi “não ter tempo! ”.
Se estamos correndo muito, se nos sentimos fora de nossa respiração ou sem espaço para um bom café sem planilhas, certamente que algo está errado. A sabedoria que trazemos conosco, ancestral e bela, mostra que nossos antepassados contemplavam estrelas, o nascer e o pôr do sol, cuidavam de seus jardins, conversavam sentados numa calçada e ainda assim, totalmente desconectados e com uma mínima ou nenhuma variedade de “opções de formações”, realizaram muito e se realizaram no processo.
A gestão sábia do tempo tem disso: permite que haja a restauração da energia do ser, a experimentação de felicidades miúdas do dia e ainda assim, nos permite criar e fazer com cooperação, interesse e comprometimento honesto.
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Existir é coexistir. Plenitude é ouvir do silêncio!
Um sábio, sabe. É certo que sabe. Por isso, o título: Sábio!
Mas um sábio se constrói nos espaços que ele cria entre se auto-observar e fazer. Aí então reside o aprender! Mas, é um aprender daquele fazer que ele movimentou a partir da essência, do insight. O sonho do sábio não é uma realização futura, mas as pequenas realizações diárias, doces, profundas, restaurativas. Consumo imediato de alegriazinhas, eu diria. Sem esperar um tempo para bem-estar.
A escuta que a projeção futurista da busca incessante pelo saber externo nos oferece, é uma escuta para o responder. Quase uma enquete do que pensa que sabe com o outro, que também pensa que sabe. Quantas vezes uma conversa, uma reunião, já não viraram uma disputa de pontos de vista e comparação de titulações? Até tragédias viraram disputas.
O resultado? Desconforto pleno. Mas jamais plenitude.
Ouvir do silêncio é perceber-se no momento presente e angariar fundos de si mesmo. Temos tanto conosco! Mas, tanto… Ali, inúmeros conteúdos internos. Todos puros, orgânicos, esperando um momento para desabrochar. O silêncio da introspecção que vem nas pausas que devemos nos permitir é repleto de valor e não pode jamais ser mensurado numa cotação ou acrescentado a uma planilha, porque é um movimento vital e não comercial;
Que tal permitir-se mais a momentos de autoaprendizagem? Que tal colocar seu sábio diante de você e conversar com ele, por alguns momentos? Sem julgamento, sem auto sabotagem? Pode ser que a relação entre o fazer e o aprender ganhe mais significado e por si só, visibilidade.
Sucesso na jornada!