O ano de 2015 começou com grandes insatisfações para mim. Eu estava terminando uma faculdade que eu sabia que não me levaria a uma trajetória linear, em um emprego que eu sentia que não mais permitia me desenvolver, em relacionamentos que eram mais gaiolas do que portos seguros. Estava tentando virar vegetariana, mas ainda comia ocasionalmente frutos do mar e peixe, havia deixado de me exercitar e me cuidar espiritualmente. Meu corpo decidiu me dar um aviso final.
Quando minha coluna colapsou
Em abril de 2015, minha coluna simplesmente travou. Fui carregada pela minha chefe para o hospital, mas não consegui sair da crise. Passei uma semana sem conseguir me sentar ou ficar em pé, deitada na cama com muita dor. Uma protrusão que eu sabia ter e que já me fazia viver à base de remédios há anos havia se tornado duas grandes hérnias de disco, e os fluidos dos discos na região lombar estavam afetando uma grande zona da minha espinha.
Os chakras estavam me dando um sinal claro para o meu corpo: ou eu lidava com minhas questões de pertencimento e força de vontade, ou não conseguiria voltar a viver normalmente. Mas eu não consegui entender a lição e tentei resolver o problema pelo corpo.
Os fisioterapeutas me passavam exercícios que eu não conseguia executar, o acupunturista disse que não conseguiria solucionar meu problema e que eu teria que passar a andar de bengala, e o neurocirurgião deu o diagnóstico final: eu teria que operar minha coluna. Com 22 anos, eu teria que fazer uma cirurgia para cortar uma parte de minha coluna, colocando em risco minha saúde.
Desesperada, marquei a cirurgia e comecei o pré-operatório. Quando informei minha chefe que meu afastamento do trabalho seria não mais de algumas semanas mas de alguns meses, ela insistiu que eu tentasse uma última consulta. A fisioterapeuta indicada, no entanto, morava em outro estado, e só poderia me atender por videoconferência. Eu não tinha nada a perder e decidi tentar o que eu achei parecer absurdo.
A fisioterapeuta inesperada
Especialista em paciente de hérnia de disco, ela mesma, Carol Valverde me respondeu rapidamente e, com sua voz que mais parecia um abraço, me acalmou. Eu não teria que passar pela cirurgia. Recomendou-me um médico que me receitou um novo remédio anti-inflamatório e marcou minha sessão para dali a alguns dias.
Nos conectamos por vídeo online, minha mãe segurando o computador para que a Carol pudesse me ver por inteiro ou focar na parte específica que examinava. Fez perguntas sobre como eu sentia, pediu que eu fizesse alguns movimentos para ela assistir e que relatasse novamente como eu me sentia. Prescreveu, no fim, que eu teria que voltar a me exercitar, perder um pouco de peso e repetir diariamente um único exercício*, que consiste basicamente em me colocar na posição de yoga chamada postura da cobra.
*É importante ressaltar que esse exercício foi diagnosticado para as minhas condições específicas, e não deve ser entendido como a solução dos problemas de coluna de outras pessoas.
Sem muito acreditar, fiz religiosamente o exercício da cobra diversas vezes por dia, como prescrito. Por coragem e uma confiança inexplicáveis, desmarquei a cirurgia. Em poucos dias, quase em um passe de mágica, eu estava em pé, andando, sentando, vivendo novamente uma vida normal. Até hoje faço a cobra quando acordo e antes de dormir, e nunca mais tive dores ou problemas de coluna.
Voltei ao trabalho e alguns meses depois pedi demissão. Fiz até mesmo um trekking de diversos dias, carregando mochila nas costas. Tornei-me definitivamente vegetariana, depois vegana. Conheci a agrofloresta e trabalhei com permacultura. Conheci a yoga e comecei a praticar meditação diariamente. Conheci e comecei a me relacionar com a pessoa com quem hoje sou casada. Assumi controle do meu corpo e da minha trajetória.
Tudo começou quando me vi cobra.
O arquétipo da cobra
Hoje tida como símbolo do mal e de algo traiçoeiro (como tantas outras coisas relacionados ao feminino), a cobra é ancestralmente um dos símbolos do sagrado feminino. Com seu poder de tirar a vida com sua força ou veneno mas, ao mesmo tempo, com seu poder de renascer ao trocar de pele, a cobra é um dos signos que representam a ambivalência bem e mal, ou a impossibilidade de encará-los com maniqueísmos.
Ao lado da lua e das vacas (com seus chifres lunares e sua fertilidade), as cobras representam os ciclos. A vida e morte, saúde e doença, e o poder de reconhecê-los como naturais e transitar entre eles. A cobra é parte do símbolo da medicina e é o animal do ouroboros/oroboro.
Corpo e alma, yoga e vida
Foram anos para me identificar com o simbolismo da cobra e vivenciar ciclos e mudanças que mudaram profundamente o meu ser, até que eu identificasse na postura da cobra a origem de todas as minhas mudanças. Colocar meu corpo e minha energia nesse movimento desbloqueou em mim a energia do renascimento.
Na aulas, lembro do meu professor dizer que as posturas da yoga são espelhos da nossa vida. Não esticar o braço o suficiente ou esticá-lo demais refletem nossos comportamentos no dia a dia. A yoga então seria uma maneira de nos conhecermos, uma desculpa para repararmos no nosso corpo e no nosso modo de agir, e uma maneira de começar a desbloquear energias que só com a cabeça não conseguimos. Quase quatro anos depois, acho que começo agora a entender esse (e o meu) poder.
Olá! Sei que esse não era o objetivo do seu texto, mas poderia indicar qual foi a profissional que te ajudou neste processo? Tenho uma tia de meia idade passando por uma situação semelhante e nenhuma terapia alternativa e muito menos as convencionais a puderam ajudar ainda. Obrigada.