“Ao entender a roupa como ferramenta de comunicar para o mundo quem a gente é, buscar referências dentro do nosso próprio universo e olhar para o ato de vestir de todos os dias como possibilidade de diversão e autoamor, saímos das tendências e entramos no campo do autoconhecimento. E quanto mais se conhece, mais se cuida, se preserva, respeita seus limites, se vê suficiente, necessária e capaz.”
É assim que Roberta começou sua explicação sobre seu trabalho como consultora de estilo: focada no autoconhecimento e no autoamor, e não na ânsia por seguir tendências ou consumir.
A Roberta tem um estilo super único, alegre e ousado. Mas ela não acredita que todo mundo tem que ser assim, ou que existe um padrão de beleza a ser seguido e almejado. Pelo contrário: ela fala em nos vestirmos de modo que transpareça quem somos, que demonstre nossa essência.
Aprender a usar nosso estilo a nosso favor pode parecer uma futilidade, mas na verdade pode ser uma importante ferramenta de autoconhecimento e autoamor. Ao nos olharmos com carinho e entendermos nossa imagem como uma parte de nosso auto cuidado, deixamos de querer nos comparar, deixamos de comprar qualquer ideia externa de beleza, e passamos a nos vestir mais para mostrar nossa essência do que para encaixar em algum padrão.
“Bom, partindo do princípio de que, quando a gente se veste (pode ser marca de luxo ou pano de chão), estamos sempre comunicando alguma coisa, indiretamente o nosso vestir acaba acontecendo para o outro também.
Acho que o limite está em respeitar a essência que falei na pergunta anterior: quando nos vestimos pensando no que o outro vai achar ou diz que é correto, começamos a colocar regras, proibições e exigências na roupa que a gente mesmo usa. Vê como é um ciclo de colocar outra pessoa e outro produto em primeiro plano e você mesma em segundo? Isso dá insegurança, dá medo, dá a sensação de que a gente não é suficiente para vestir qualquer coisa que seja (nem suficiente para outras coisas/ pessoas).”
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“Quando eu penso na relação de moda e empoderamento eu gosto de ir além da questão olhar no espelho e se achar bonita. Fomos ensinadas a olhar mais para fora do que para dentro, a estarmos sempre adequadas, a nos compararmos com as outras, a sermos perfeitas.
Aceitar elogio e reconhecer méritos é feio e prepotente, se achar bonita e inteligente é arrogância… e mais e mais fomos nos distanciando de nós mesmas e perdendo o contato com a nossa essência, com o que de fato é importante para gente.”
Uma das ferramentas que a Roberta usa para esse processo de auto conhecimento que transborda em nosso vestir é o diagnóstico de estilo. Nele, ela analisa um montão de respostas nossas sobre como somos, como trabalhamos, o que gostamos de fazer, que tipo de imagem queremos passar sobre nós, que tipo de estilo gostamos ou não. Tudo começa com essa proposta:
Paraa começar, preciso que você responda a um questionário e faça um exercício de imagens. Guarda um tempinho para você, fica sozinha para se amar, bota uma música gostosa, acende uma vela perfumada, respira bem fundo 3 vezes e se concentra.
Como resultado, a Roberta oferece conceitos que englobam seu estilo. Algo como: impactante e despojado. A ideia, de longe, não é limitar sua personalidade ou suas roupas: pelo contrário, a ideia é ajudar a tarefa ─ sejamos sinceras, muitas vezes estressante ─ de entender como vamos juntar aquelas roupas para sair de casa hoje.
Outra ferramenta, que pode ajudar ainda mais nas combinações e na nossa sensação de que bem-estar com nossa imagem, é a análise de coloração pessoal.
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Nela, são analisados diversos aspectos das nossas cores e com qual paleta, portanto, combinamos mais. Isso não restringe nossas roupas, e sim dá dicas do que usar ─ principalmente perto do rosto ─ para passarmos uma impressão mais harmônica.
“Qualquer ferramenta de autoconhecimento tem o poder de ajudar no empoderamento e na autoestima. A análise de coloração pessoal, por exemplo, te dá a chance de saber, com certeza, quais cores ficam melhor em você.
Com essa certeza em mãos, a gente vai perdendo o medo de usar uma cor aqui, outra ali, e de pouquinho em pouquinho (ou de supetão mesmo!) começa a usar a roupa como exercício de criatividade e diversão e a arriscar mais ─ o que te dá a oportunidade de se conhecer mais.
Quando a gente sabe do que gosta, passa a comprar menos para seguir tendência ou para agradar o outro e, com essa assertividade, se sente menos escrava de gastar horrores com roupa, sobra mais dindin no fim do mês, tem armário organizado…. Quer poder maior do que ter controle sobre as próprias vontades e decisões?”
Muitas vezes encaixotamos as áreas da vida com muita força, decidindo de maneira quase arbitrária o que é bom e o que é mau. Espiritualidade é auto conhecimento, moda é futilidade, por exemplo. Na prática, no entanto, a vida é holística, é integral: tudo que fazemos pode ser feito de acordo com nossa essência ou não, e simplesmente varrer algumas coisas para baixo do tapete não nos ajuda.
Quando nos sentimos bem ou mal conosco mesmas, a tendência é que isso transborde para todas as áreas da vida. Se não gostamos do nosso emprego, passamos a nos dar menos valor, a nos sentir feias e indignas de ser amadas. Se nos sentimos bonitas, tendemos a valorizar elogios e a perceber mais nosso valor, a acreditar em nós mesmas e no que fazemos.
O modo como nosso estilo e visão de mundo transbordam em nossa imagem pode ser mais uma ferramenta de auto amor, que nos ajuda no cuidado diário. E ao olharmos para nossa imagem como esse transbordamento e não como uma maneira de nos encaixarmos em padrões externos, nos libertamos de um montão de visões pré-criadas e libertamos nossa criatividade e auto amor.