Arquiteto das formas impossíveis, Antoni Gaudí desenvolveu um conjunto de obras que transcende épocas, culminando num estilo único e orgânico. Em seu processo criativo, Gaudí deu vazão a sua intuição e inquietude com o mundo ao redor. Desenvolveu uma linguagem própria, escultural, trabalhando com estruturas complexas, inspiradas muitas vezes em formas observadas na natureza. Sua devoção à religião católica também se intensificou ao longo de sua vida, enriquecendo seus trabalhos com elementos do imaginário religioso.
Sete de suas obras foram classificadas como patrimônio mundial pela UNESCO e uma delas, a inacabada Basílica e Templo Expiatório da Sagrada Família, é um dos monumentos mais visitados na Espanha. Gaudí dedicou doze anos de sua vida à Sagrada Família, obra que segue em processo de construção, transformando a linha do horizonte de Barcelona e levando visitantes do mundo todo a um estado de deslumbramento.
O fenômeno Gaudí
Quinto filho de uma família de funileiros, Antoni Gaudi e Cornet obteve seu título de arquiteto na Escola Técnica Superior de Arquitetura, em Barcelona, onde realizou a maior parte de seus trabalhos. Criou seus primeiros projetos com influência da arquitetura neogótica, mourisca (árabe) e tradicional catalã. Destacou-se na cena de Barcelona do fim do século XIX e início do XX, fazendo parte do movimento modernista catalão, juntamente com outros grandes arquitetos como Domènech i Montaner e Puig i Cadafalch.
Cento e cinquenta anos após seu nascimento, o reconhecimento de sua vida e obra não veio através da quantidade de projetos desenvolvidas, uma vez que dirigiu cerca de vinte projetos arquitetônicos. Seu reconhecimento vem de uma dedicação plena, participando na criação das mais complexas estruturas até seus mínimos detalhes. Seu segredo era, provavelmente, saber abordar o processo criativo de uma forma diferente. Gaudí transformou seu ateliê em um laboratório de experimentação e se cercou de colaboradores com domínio sobre diversas técnicas.
Banksy – o artista desconhecido mais conhecido mundialmente
A natureza e suas formas
Criado no campo em Tarragona, Gaudí teve durante sua infância a habilidade de observar a paisagem a seu redor, encontrando ali informações valiosas e inspiração. Seu entorno natural, incluindo plantas e animais, apresentou todas as leis de estrutura que o arquiteto precisaria para propor e construir suas edificações. Como árvores, as colunas da Sagrada Família se ramificam em direção aos céus e os arcos nos sótãos de seus edifícios são similares a esqueletos. Os movimentos sinuosos dos bancos, fachadas e balcões lembram o movimento das ondas do mar de Barcelona.
Os elementos naturais estão presentes nas formas, no mobiliário, na decoração. As próprias edificações propostas por Gaudí lembram seres vivos, como a Casa Batlló, que se assemelha a um dragão adormecido, com suas bancadas ósseas e cobertura escamada. Já a Casa Millá, poderia ser uma montanha, curvilínea e com uma fortaleza bem guardada localizada em seu cume.
“O arquiteto do futuro se baseará na imitação da natureza, porque é a forma mais racional, duraroura e econômica de todos os métodos”. (Gaudí)
Arte, técnica e estruturas
Gaudí recorria à simplicidade da natureza para resolver problemas arquitetônicos. A prática de fazer maquetes em escala real foi algo que marcou sua maneira de projetar, pois raramente desenhava os projetos detalhadamente, preferindo modelar e criar os detalhes à medida em que a obra era concebida. Quando precisou de algo além de um protótipo para o auxiliar a avançar em seus projetos, inventou modos empíricos de verificação.
Um método inovador consistia em montar uma rede de cordas com pequenos pesos pendurados. Os pesos distribuídos eram proporcionais às cargas que o edifício precisava suportar. Através da observação das formas que as cordas tomavam, ele obtinha o modo como as colunas e arcos deveriam ser distribuídos, para suportar o peso. Usou este método com sucesso na cripta da Colônia Güell, para depois aplicá-lo novamente na Sagrada Família.
Uma galeria de arte em meio à floresta
O arquiteto e seus colaboradores criaram obras magníficas à partir de materiais como madeira, ferro forjado, ferrocimento, pedra, reboco, tijolo e vitrais. Para os trabalhos com cerâmica, Gaudí contava com o valioso conselho de Manel Vicens i Montaner, celebrado ceramista de Barcelona. Em muitas obras, utilizaram a técnica tradicional catalã do trencadís, que consiste em usar peças cerâmicas quebradas para compor superfícies. Quando possível, a exemplo do Parque Güell, materiais reutilizados ou presentes no próprio terreno eram incluídos nas construções.
“Nada existe que não seja útil, que não sirva, que não tenha preço”. – Gaudí
Além de Gaudí, aqui
Do dia 27 de agosto ao 30 de Outubro de 2016, foi realizada a exposição Gaudí: Barcelona, 1900, no MASC (Museu de Arte de Santa Catarina).
Em paralelo à exposição de Gaudí em Florianópolis, a Mostra Paralela: Além de Gaudí, aqui. é um circuito de exposições, intervenções, debates e ações que buscam repensar o fantástico na arquitetura local. As atividades ocorreram do dia 10 de setembro a 31 de outubro, em diferentes pontos de Florianópolis.
Aprecie um pouco a aquitetura de Gaudí:
Carolina Dal Soglio é arquiteta e urbanista, co-criadora da ADAMÁ Bioarquitetura, grupo de profissionais que trabalham com arquitetura bioclimática e bioconstrução. Confira nosso trabalho em www.adama.arq.br.
Referências
KLICZKOWSKI, H. Complete works, Gaudí. Loft publications. Barcelona, Es.
FUNES, Antônio G. et al. Gaudí x Gaudí. Triagle Postals. Barcelona, Es.
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