Primaveras revolucionárias que mudaram o mundo

A primavera tem no seu íntimo o símbolo da mudança; assim é representada na mitologia grega, na figura de Clóris, como a potência da natureza que traz vida e renovação quando chega. Nesse período do ano, um novo ciclo se inicia e possibilita que frutos e flores cresçam, transformando a realidade que nos cerca e trazendo a possibilidade de vivermos novos tempos. Tudo aquilo que a natureza comporta é tocado pela potência vital da primavera e, assim, ela deixa sua marca também nas criações humanas, trazendo em sua metáfora, novos horizontes para a sociedade.

Confira algumas referências feitas à primavera ao longo das criações humanas. O simbolismo que carrega consigo é de tamanha sutileza, que foi usada por diversas vezes, ora para evocar beleza, ora para evocar força e resistência; sempre como um ato revolucionário.

Primavera dos Povos (1848)

 

Na obra A Era do Capital, o historiador inglês, Eric Hobsbawm, faz uma análise de um período histórico grandemente influenciado pela Primavera do Povos. Tal evento, ocorrido em 1848, foi marcado por levantes revolucionários que insurgiram em diversos países da Europa (e que tiveram reflexos inclusive no Brasil, com a Revolução Praiera de Pernambuco), em resposta à retomada das monarquias absolutistas e complementadas por um período de crise econômica. As revoltas evocavam os ideais liberais burgueses difundidos na Revolução Francesa (1789) e foram potencializadas pela publicação do famoso Manifesto Comunista de Fredrich Engels e Karl Marx, convocando a classe operária à luta por seus direitos sociais. O filme Os Miseráveis (2012), baseado na obra de Victor Hugo, também traz um pouco do clima político e social da época e vale a pena ser assistido.


Primavera das Sufragistas

Foi em plena primavera na Nova Zelândia, que o direito ao voto feminino foi concedido pela primeira vez em todo o mundo. Liderado por Kate Sheppard, o movimento pelo sufrágio feminino, que já se espalhava  desde a Revolução Francesa, atinge uma importante vitória após intensa luta política e recolhimento das assinaturas de 1/3 das mulheres do país. O movimento sufragista ganhou muita força também na Inglaterra do início do século XX, período em que a opressão contra as mulheres e a falta de direitos sociais, ficaram muito claras a partir da inserção dessas no ambiente de trabalho da sociedade industrial. Tal tema é abordado no longa metragem As Sufragistas (2015), com direção de Sarah Gavron.


Sagração da Primavera

No dia 29 de maio de 1913, em um importante teatro de Paris, um espetáculo subverteu toda ordem musical da época, escandalizando a plateia e inaugurando o movimento Modernista na música. Sagração da Primavera, é uma obra composta por Igor Stravinsky, expoente russo, que ousou modificar completamente os padrões formais, rítmicos e harmônicos da música clássica, criando uma composição agressiva, com timbres e dissonâncias de difícil assimilação, mas que apontavam pra genialidade do compositor. O espetáculo consistia, além da orquestra, numa apresentação de balé que também fugia das expectativas, ao invocar elementos de ancestralidade pagã. Durante sua execução, foi muito mal recebida pela crítica conservadora, só ganhando seu devido reconhecimento com o avanço do movimento Modernista ao longo da primeira metade do século XX.


Primavera Silenciosa

Na década de 1960, em plena consolidação do “american way of life”, a comunidade acadêmica finalmente abriu os olhos da sociedade para os problemas ambientais gerados pela sociedade de consumo. No ano de 1962, Rachel Carlson, bióloga norte-americana, escreveu Primavera Silenciosa, livro que inseriu de vez as questões ambientais nas pautas globais ao denunciar os efeitos nocivos do uso de pesticidas, dentre outros problemas. Sua obra foi um marco que impulsionou o movimento ambientalista, fazendo forte crítica social, principalmente das ações do governo norte americano em suas investidas na Guerra do Vietnã, onde se fez o extenso uso do DDT como arma química.

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Primaveras Democráticas

A segunda década deste século vem sendo marcado por intensas disputas em torno das formas de governo democráticas. Enquanto alguns vivem o processo de derrubada de governos ditatoriais, como no caso de certos países árabes; diversos outros vivem intensos processos de questionamento da democracia e da falta de representatividade política. Não à toa, nos últimos anos uma onda de levantes populares vem ganhando as ruas de todo o mundo, promovendo revoluções em um novo modelo a partir do uso das redes sociais e a rápida troca de informações que a internet permite. Aqui vão 3 documentários que acompanham de dentro o desenrolar de alguns desses levantes.

  • The Square (2013) acompanha as manifestações da Primavera Árabe que ocuparam as ruas do Egito e derrubaram dois governos e mostra muito bem o papel que as redes sociais e o rápido compartilhamento de informações tem nas revoluções contemporâneas.

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    • Winter on Fire (2015) mostra a jornada de 93 dias dos ucranianos, que montaram uma verdadeira fortaleza na praça Maidan em Kiev, para depor o governo corrupto.

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  • Junho- O mês que abalou o Brasil (2014) traz a trajetória das manifestações que aconteceram ao longo do ano de 2013, que levou às ruas de todo o país um número histórico de pessoas descontentes com a situação política e social do país. Tais eventos vêm surtindo efeitos desde então, desvelando disputas ideológicas e políticas em toda sociedade brasileira.

Sou um mineiro, com pai fluminense, que mora em São Paulo e que não pertence a lugar algum, ou a todos eles. Na busca de me definir, preferi ser do mundo, pois é dele que me vem toda a inspiração para viver. Nele encontrei a literatura, a arte, a filosofia e a ciência que me fizeram ultrapassar as limitações de espaço e tempo. Se me perguntam o que faço ou do que gosto, digo que sou um observador e que aprecio o silêncio que envolve toda a simplicidade do mundo. Recentemente me (re)apaixonei pela natureza, confesso que não consigo mais esquecê-la.