O solstício de inverno ocorrerá no hemisfério sul neste sábado, 20 de junho, de 2020,18:43 (horário de Brasilia), para sermos exatos.
Isso significa que teremos a noite mais curta do ano e que a partir de sábado, os dias se prolongarão progressivamente, aproximando-nos do retorno da luz, do calor e do verde, no ritmo dos caracóis.
Mas nossa experiência na verdade será outra: o frio estará presente pelos próximos três meses, sinônimo de dias curtos, noites frias e manhãs geladas, nas quais sair de debaixo dos cobertores exigirá coragem. Pelo menos pra quem mora no sul do país.
Somos cíclicos, assim como tudo no universo passamos por nascimento, crescimento, plenitude e morte. Independente da sua relação com a natureza, somos influenciados por ela.
A temperatura e a incidência de luz do sol nos afeta. Assim como os ciclos lunares. O magnetismo da lua influencia as águas da terra, basta observar as marés e ter uma ideia do que faz com nosso corpo que é constituído mais de 50% de água. E água é também emoção. Somos influenciados energeticamente pelas fases da lua e os ciclos da natureza.
Quem mora nos grandes centros urbanos, pode ficar dias ou para quem é bem desligado, semanas, sem observar a lua, o sol ou perceber as mudanças de ciclos. E assim perde a oportunidade de se alinhar com o ritmo da vida.
O tempo da natureza é um tempo sábio e verdadeiro, e ter perdido esta referência, pelo menos a consciência dela, certamente não nos ajuda.
Aprender como cada fase da lua e cada estação influenciam nosso corpo traz equilíbrio para nosso ser. Nós temos, aprendido a fluir junto com o ritmo da natureza.
O solstício de inverno tem algum impacto em nossas psiques, emoções, energia vital?
Muito. Nossa mente está no século XXI, mas nosso corpo não é tão diferente do de nossos ancestrais e ele ainda ouve o chamado do inverno. Civilizações antigas governavam suas vidas sob o ciclo do sol, e os meses frios eram um desafio à sobrevivência.
Todos os anos, o rito inexorável acontecia: as árvores se despiam, a temperatura despencava, a disponibilidade de comida era escassa, buscar calor e comida se tornava a principal ocupação de cada dia. Os festivais e cerimônias que marcavam a data tinham um alto objetivo: promover, através de orações e sacrifícios, o retorno do sol e o renascimento da vida.
Hoje, o inverno produz profundas mudanças no mundo natural: baixas temperaturas ajudam o crescimento de plantas e árvores frutíferas, limitando o crescimento de pragas e favorecendo a doçura dos frutos. Outras plantas hibernam e se recarregam para um novo ciclo de vida.
Nos dias atuais maioria de nós (infelizmente nem todos) tem um abrigo e acesso a alimentos. No entanto, a chegada dos ventos gelados retumbam um antigo chamado e nosso corpo pede para se recolher. Parar para honrar essa passagem é reconhecer a nós mesmos como parte da natureza , da dança antiga da contração e da expansão, inspiração e expiração, que acompanha a vida de todos os seres vivos.
Como podemos honrar esse ritual e ouvir o chamado do inverno?
Aqui estão alguns caminhos:
✔️Convide amigos para comer ou cozinhar juntos. Não vamos mais nos reunir em torno de uma fogueira (ou vamos?), mas o efeito é o mesmo: gerar luz e calor no encontro dos corações. Em tempos de isolamento social vale fazer uma live com os amigos.
✔️ Imite o povo dinamarquês e aceite as experiências Hyggelig (WTF?). Intraduzível com uma única palavra, o conceito de hygge descreve tudo o que transmite calor, intimidade, simplicidade, autenticidade, emoção, prazer do momento e ausência de pretensão.
Algumas atividades hyggelig: deitar na cama com chocolate quente e um bom livro, curtir a chuva, vestir um suéter velho, beber chá , preparar a casa para a nova estação, render-se aos devaneios enquanto ouve música acariciando os pets, dançar devagar. Qualquer um desses rituais (ou aquele que aflora cada um) gera calor na alma; o gesto exato que o inverno nos pede.
No fim, para entender melhor o conceito desta palavra, imagine uma situação em que você se sente totalmente confortável e relaxado: isto é hygge.
✔️ Acenda uma vela. A visão do fogo nos leva de volta às nossas raízes arcaicas, nos tira da agitação diária e acalma nossa mente hiperativa. Um instante apenas observando a chama é suficiente para nos conectar com o essencial.
✔️ Reserve um momento para desligar as luzes e ver qual o impacto da escuridão sobre nós. Ficaremos surpresos com o quanto podemos ver uma vez que nossos olhos se acostumam à escuridão e à paz que podemos encontrar lá.
✔️ Sinta o vigor do frio . Se o verão nos convida a relaxar e desfrutar, o frio nos da um chute na bunda. Dar uma caminhada numa manhã de inverno significa invocar as forças interiores que nos ajudaram a moldar tudo o que nos rodeia hoje.
✔️ Doe cobertores e provisões a quem precisa. Qualquer gesto de ajuda condiz com o rigor do inverno.
Solstício de inverno nas escolas Waldorf
Nas escolas Waldorf em todo o mundo, o solstício de inverno é marcado com o Festival das Lanternas. Durante semanas, a criançada constrói suas lanternas em papel, madeira ou metal e as decoram com folhas e desenhos de inverno.
A noite, eles vão passear no escuro, junto com seus pais e professores. Essa tradição antiga, nascida no norte da Europa, procura transmitir às crianças a lição do inverno: o sol se retirou, é hora de desenvolver e cuidar da sua própria luz. É assim que uma das músicas que acompanha a caminhada sombria diz:
“O fogo queima, o fogo queima. Deixe sua lição de casa. Vamos unir nossas vozes, amigos, vamos cantar”.
Onde estiver tente sintonizar com as energias da natureza. <3