“Não siga sua paixão, seja um artesão da sua vida”. Essa é uma lição que eu já intuía, mas que veio à racionalidade com o livro “Tão bom que eles não podem te ignorar”, de Cal Newport.
Em seu livro, Cal apresenta seu ponto de vista de que é falsa a ideia hoje vendida de que todos deveriam procurar uma paixão e torná-la seu emprego. Ao contrário, ele afirma, a paixão seria adquirida depois de anos de trabalho, uma vez conquistados: controle sobre sua rotina, oportunidades de ser criativo no dia a dia e a oportunidade de impactar o mundo com seu trabalho. Mas essa dinâmica só pode ser conquistada com reconhecimento, o que só existe depois de anos de bom trabalho.
Pirâmide de autoaprimoramento
Para apressar esse ciclo ou mesmo para um dia chegar nesse ponto, Cal diz que é necessária uma estratégia de autoaprimoramento. Ele divide essa estratégia em uma pirâmide:
- a maior parte do tempo deveria ser gasta em uma pesquisa “de fundo” (background) na sua área, compreendendo melhor cada aspecto dela e como contribuir/inovar (o autor prevê um hora semanal para estudos focados e uma caminhada livre, sem qualquer estímulo por dia);
- uma parte menor do tempo deve ser gasta em pequenos projetos exploratórios que lhe tensionem a inovar e, ao mesmo tempo, permitam rápidos comentários/feedback;
- por último, devem ainda ser feitos projetos experimentais de nível médio (de duração de no máximo um mês), maiores e mais ousados, mas ainda tensionando barreiras e permitindo feedback.
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Espiral do impacto
O bom trabalho e foco em autoaprimoramento, ao longo do tempo, levam o indivíduo a adquirir o que o autor chama de “capital de carreira”, que em síntese significa reconhecimento na área. Com mais capital de carreira, eventualmente cada pessoa terá como optar por mais autonomia (provavelmente em uma escolha por mais prestígio e mais dinheiro ou mais autonomia).
Uma vez adquirida mais autonomia e insistindo em um bom e focado trabalho, ele terá mais chances de possibilitar inovação e de ser notável, reconhecido. E o trabalhador poderá, enfim, impactar verdadeiramente o seu entorno.
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A questão não é ser antipaixão
Não entenda mal: o autor não defende que as pessoas trabalhem em áreas sem sentido, presas a uma carreira simplesmente por dinheiro ou medo. Pelo contrário: ele especificamente diz e até mesmo exemplifica que você deve deixar seu emprego se você não acredita na importância do seu trabalho, não gosta dos seus colegas ou não há chances de você se diferenciar e passar a impactar o mundo como quer nele.
O que Cal advoga é que você não pode esperar que desde o começo de sua carreira você já consiga mudar o mundo. O segredo, ele diz, é focar no que você pode contribuir para o mundo, e não no que o mundo pode lhe oferecer.
Assim, deixar uma longa carreira em contabilidade para abrir um estúdio de Yoga após ter um treinamento de apenas u mês na prática não parece uma boa ideia, mas decidir abri-lo depois de alguns anos dando aulas ou então decidir abrir o seu próprio escritório de contabilidade para o terceiro setor parecem decisões acertadas e cheias de sentido.
Paixões imediatas e ansiedade
Tomar decisões inteiramente baseadas em paixões imediatas pode simplesmente lhe levar a bastante ansiedade, uma vez que o mundo dificilmente responderá na intensidade de seus desejos. Por outro lado, se você não está devidamente preparado para uma área, dificilmente poderá contribuir de forma a deixar sua marca e impactar seu entorno.
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Construir artesanal e cuidadosamente seu caminho, no entanto, pode demorar um pouco mais, mas certamente lhe oferecerá a oportunidade de trabalhar apaixonadamente, ser cada vez melhor nisso, e verdadeiramente contribuir.