Casar ou comprar uma bicicleta?! Caso com a bicicleta!

A bicicleta é a sensação do momento nas cidades do Brasil. A magrela está em todas: nos movimentos de mobilidade urbana, movimentos socioambientais, nas artes das ruas, na boca do povo. A saturação de carros nas grandes cidades resgatou o amor por esse antigo meio de transporte, muito utilizado por aqui nas baixadas do nosso litoral, nas zonas rurais e nas pequenas cidades. As bicicletas caiçaras e as de carga são as tataravós da tão falada ciclofaixa, muito respeito!

O fato é que a bicicleta não é simplesmente uma alternativa para o trânsito nas grandes cidades. Ela é, desde o passado, o meio de transporte do futuro!  Principalmente porque, quando ela surgiu, não havia todos os problemas que os carros nos trouxeram, tantas pessoas, tanta fumaça. Na obra “Os Fundamentos da Permacultura”, o nosso velho David Holmgren cita diversas vezes como a alta tecnologia pode ser um “cavalo de tróia” em nossa sociedade, recriando problemas em novas formas, por exemplo, por uma mobilidade maior. Holmgren cita a importância de uma natureza auto-suficiente, quando produzimos nosso alimento, consertamos o liquidificador ou, quando nos deslocamos por aí pedalando! A velha magrela chegou para nos trazer o bem e, de tão boa, hoje ela é a solução contra o mal.

Apesar da elevação do patamar moderno das bicicletas para “solução global”, há de se lembrar humildemente o que é andar de bicicleta antes de preocupar-se para que ela serve. Andar de bicicleta é fazer exercícios, não emitir gases fósseis, melhorar o trânsito? Em Paraty-RJ, onde moro, vi uma mãe levando três crianças, as compras e, naquele dia de chuva, um guarda-chuva (considerando que as crianças caiçaras trocaram de lugar com a bicicleta em movimento). Em uma visita à Montevidéu, Uruguai, conheci um americano que saiu de casa de bicicleta e lá estava, ao meu lado, no sul do continente. Em São Paulo, um amigo Engenheiro Ambiental visita suas obras na região metropolitana, sempre de bicicleta.

1 Pintor no Centro Histórico – Paraty

Alguns dizem que a bicicleta foi inventada por Da Vinci, outros dizem que foram monges da China, ou um relojoeiro alemão. Fico com os monges! Mas não por saber: por pura sensação. Quando mudei de São Paulo para Paraty numa pedalada de sete dias beirando o litoral sul e norte do Estado, acredito que pude entender o que é andar sobre as duas rodas. Antes de tudo, pedalar é poder ver o cenário modificar-se não tão lentamente para que se torne repetitivo e não tão rapidamente para que se percam os detalhes: é a melhor maneira de observar e concentrar-se no tempo e espaço em que se vive, ao ar livre, com vento na cara e, sendo suas pernas a causa-efeito de toda a magia. Uma espécie de meditação!

1Viagem SP-Paraty, Praia de Boracéia

A bicicleta pode e vai resolver os problemas físicos do mundo, melhorando suas condições ambientais e de mobilidade. Antes de quaisquer decisões, manifestações, planejamento ou política, ao menos uma vez, todas as mães deveriam levar seus filhos para escola de bicicleta, todos os americanos deveriam vir ao Sul pedalando e todos os Engenheiros de São Paulo deveriam ir às suas obras levando os dois capacetes consigo em cima da magrela. Devemos todos entender o que ela tem para nos dizer para que, assim, possamos contar ao mundo. Quem não sabe se casa ou se compra uma bicicleta, deveria casar-se com a própria.

Felipe Figueira é de São Paulo onde, por hora, voltou a morar. Trabalhou como engenheiro ambiental - sua formação - lojista, garçom, músico, recepcionista, tradutor, professor de inglês e música, voluntário, servente de pedreiro, servente de carpinteiro, professor de violão e guia turístico na região de Paraty, onde morou por 3 anos. Lá, conheceu e se infiltrou na cultura de raiz brasileira, como o maracatu, tambor de crioula e o samba de coco. Gosta de carregar a música e a poesia quando viaja e em sua bicicleta, junto ao seu violão, e de observar e estudar a natureza para entender a melhor maneira de preservá-la. Atualmente estuda a ciência da Permacultura.