Você já se sentiu triste ou frustrado quando tentou falar para outra pessoa sobre as suas necessidades? Muitas vezes não conseguimos nos expressar bem, e muitas vezes não conseguimos identificar nossas próprias necessidades. Ficamos bravos, irritados, tristes, esperando que o outro adivinhe o que queremos.
Se você já passou por isso, saiba que não está sozinho e que é possível aprender a identificar suas necessidades e comunicá-las aos outros de uma maneira harmoniosa. Quem desenvolveu essa técnica foi Marshall B. Rosenberg e ele a ensina no livro: Comunicação Não-Violenta – Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais.
Comunicação Não-violenta (CNV)
A Comunicação Não-Violenta (CNV) é uma abordagem específica da comunicação (falar e ouvir) que nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de uma maneira que permite que a nossa compaixão natural floresça.
O termo “não-violência” foi utilizado com o mesmo significado que foi atribuído por Gandhi, referindo-se a nosso estado compassivo natural, quando a violência se afasta de nossos corações. Embora possamos não considerar “violenta” a maneira como falamos, nossas palavras podem induzir à mágoa e à dor, tanto para os outros como para nós mesmos.
A CNV se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. Ela nos ajuda a reformular a maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros.
Dessa maneira, as nossas palavras deixam de ser reações repetitivas e automáticas e tornam-se respostas conscientes, baseadas naquilo que estamos percebendo, sentindo e desejando. Somos levados a nos expressar com honestidade e clareza, ao mesmo tempo que damos aos outros uma atenção respeitosa e empática.
Durante esse processo acabamos escutando nossas necessidades e as dos outros. A CNV nos ensina a observarmos cuidadosamente (e sermos capazes de identificar) os comportamentos e as condições que estão nos afetando. Aprendemos a identificar e a articular claramente o que de fato desejamos em determinada situação. A forma é simples, mas profundamente transformadora.
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Como praticar a Comunicação Não-violenta (CNV)
Boa parte dos nossos problemas de relacionamento (pessoais ou profissionais) poderiam ser resolvidos se tivéssemos a habilidade de criar uma comunicação empática e verdadeira. A CNV procura encontrar um meio para todos os envolvidos obterem o que realmente importa para eles sem o uso de culpa, humilhação, vergonha, culpa, coerção ou ameaças. A CNV é útil para resolver seus conflitos de maneira não violenta, conectar-se com os outros e viver de uma forma consciente e sintonizada com as suas necessidades e as necessidades dos outros.
O processo da CNV inclui um método simples para comunicação clara e empática, consistindo de quatro passos:
- Observação – Identificação dos fatos (livre dos meus julgamentos);
- Identificação dos sentimentos naquela situação;
- Identificação das necessidades (atendidas ou não);
- Com base nos passos acima, fazer pedidos específicos a outra pessoa.
1. Observação – Identificação dos fatos (livre dos meus julgamentos)
Indique as observações que estão levando você a sentir a necessidade de dizer algo. Estas devem ser observações baseadas apenas em fatos, sem nenhum componente de julgamento ou avaliação. A CNV é uma linguagem dinâmica, que desestimula generalizações, as avaliações devem sempre se basear nas observações específicas de cada momento e contexto. Quando fazemos uma observação com uma avaliação associada, as pessoas podem discordar sobre avaliações, pois cada pessoa valoriza as coisas de maneira diferente. Os fatos fornecem um terreno comum para a comunicação.
Para a maioria de nós, é difícil fazer observações que sejam isentas de julgamento, crítica ou outras formas de análise sobre as pessoas e seu comportamento. Por isso, ilustraremos com alguns exemplos, que mostram a diferença entre observações com uma avaliação associada e observação isenta de avaliação:
Comunicação | Exemplo de observação com avaliação associada | Exemplo de observação isenta de avaliação |
1. Usar o verbo ser sem indicar que a pessoa que avalia aceita a responsabilidade pela avaliação. | Você é generoso demais. | Quando vejo você dar para os outros todo o dinheiro do almoço, acho que está sendo generoso demais. |
2. Usar verbos de conotação avaliatória. | João vive deixando as coisas para depois. | João só estuda na véspera das provas. |
3. Implicar que as inferências de uma pessoa sobre os pensamentos, sentimentos, intenções ou desejos de outra são as únicas possíveis. | O trabalho dela não será aceito. | Acho que o trabalho dela não será aceito. Ou: Ela disse que o trabalho dela não seria aceito. |
4. Confundir previsão com certeza. | Se você não fizer refeições balanceadas, sua saúde ficará prejudicada. | Se você não fizer refeições balanceadas, temo que sua saúde fique prejudicada. |
5. Não ser específico a respeito das pessoas a quem se refere. | Os estrangeiros não cuidam da própria casa. | Não vi aquela família estrangeira da outra rua limpar a calçada. |
6. Usar palavras que denotam habilidade sem indicar que se está fazendo uma avaliação. | Zequinha é péssimo jogador de futebol. | Em vinte partidas, Zequinha não marcou nenhum gol. |
7. Usar advérbios e adjetivos de maneiras que não indicam que se está fazendo uma avaliação. | Carlos é feio. | A aparência de Carlos não me atrai. |
Exemplos retirados do livro Comunicação Não-Violenta – Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais, de Marshall B. Rosenberg.
2. Identificação dos sentimentos naquela situação
Após ter exposto os fatos, livre de seus julgamentos, diga a sensação que a observação está causando em você, ou tente adivinhar o que a outra pessoa está sentindo e pergunte. Nomear a emoção, sem um julgamento moralizante, permite que você se conecte com a outra pessoa, propiciando um ambiente de respeito mútuo e cooperação. Faça este passo com o objetivo de identificar de maneira precisa o sentimento que você ou a outra pessoa está experimentando naquele momento, não com o objetivo de envergonhá-lo pelo que você está sentindo ou tentar impedir que ele sinta o que está sentindo. Às vezes é difícil expressar os sentimentos em palavras.
Vejam um exemplo: “Ontem você combinou que viria aqui em casa para conversarmos e você não apareceu (observação). Fiquei desapontado (sentimento), porque eu queria conversar a respeito de algumas coisas que estavam me incomodando.”
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3. Identificação das necessidades (atendidas ou não)
Indique a necessidade que é a causa desse sentimento, ou tente adivinhar a necessidade que causou o sentimento na outra pessoa e pergunte. Quando nossas necessidades são atendidas, temos sentimentos felizes e agradáveis, porém, quando elas não são atendidas, temos sentimentos desagradáveis. Ao identificar o sentimento que foi causado, muitas vezes você consegue encontrar qual necessidade foi ou não foi atendida. Expressar qual é a sua necessidade, sem julgá-la moralmente, te traz clareza do que você ou a outra pessoa estão sentindo naquele momento.
Por exemplo, “Eu vi que seu nome não foi mencionado nos agradecimentos (observação). Você está se sentindo ressentido (sentimento) porque você não está recebendo a apreciação que você precisa? (necessidade)“.
Observe que “necessidades” têm um significado especial na CNV: elas são comuns a todas as pessoas e não estão vinculadas a nenhuma circunstância ou estratégia específica para cumpri-las. Então, por exemplo, querer ir ao cinema com alguém não é uma necessidade e o desejo de passar tempo com uma pessoa específica não é uma necessidade. A necessidade nesse caso pode ser de companheirismo. Você pode satisfazer sua necessidade de companhia de muitas maneiras, não apenas com essa pessoa específica e não apenas indo ao cinema.
4. Com base nos passos acima, fazer pedidos específicos à outra pessoa
Faça um pedido concreto de ação para atender a necessidade que acabou de identificar. Peça claramente e especificamente o que você quer agora, ao invés de sugerir ou declarar apenas o que você não quer. Para que o pedido seja realmente um pedido ─ e não uma exigência ─ permita que a outra pessoa diga não ou proponha alguma outra alternativa. Você assume a responsabilidade de satisfazer suas próprias necessidades e permite que elas assumam a responsabilidade por elas.
Por exemplo: “Na duas últimas semanas você chegou atrasado ao nosso encontro (observação). Eu fico muito triste (sentimento) quando você marca um horário comigo e não cumpre. Cumprir horários para mim é uma questão de respeito (necessidade). Da próxima vez que você for se atrasar você poderia me enviar uma mensagem me avisando? (pedido específico) Assim eu posso me programar melhor.”.
A CNV é um processo a ser aplicado no dia a dia e não há fórmulas para sua aplicação, pois cada pessoa é única, cada um tem a sua visão e seus próprios sentimentos em relação a uma mesma situação, mas conseguir identificar os seus próprios sentimentos e suas necessidades ajuda muito no relacionamento com as outras pessoas, mesmo que suas necessidades não possam ser atendidas. Só o fato de se sentir compreendido e conseguir expressar o que você quer e o que está sentindo pode transformar as suas relações.
Se você gostou do assunto e quiser se aprimorar, no dia 11/03/19 a Carolina Nalon, Fundadora do Instituto Tiê, coach especialista em Comunicação Não-Violenta irá disponibilizar um mini-curso gratuito, O Caminho da Comunicação Autêntica. Um curso que nasceu com o intuito de ajudar as pessoas a aplicarem a CNV na prática, apresentando ferramentas que permitem afinar essas habilidades em você. Para se inscrever no mini-curso gratuito, clique aqui.
Se você quiser conhecer um pouco mais sobre CNV e sobre a Carolina Nalon, assista esse TEDx: