Foi em uma tarde de verão, o dia em que decidimos prorrogar a estação ao cruzar o Equador e aterrissar com tudo, em um lugar que se anunciava totalmente improvável, alegre, mas absolutamente desafiador e que se expandia em mistérios durante nossas deliberações e pesquisas acerca da jornada.
De todos os possíveis destinos que nossa alma, incansável viajante, poderia escolher em um mapa, surpreendeu-me quando, na ponta do dedo despontava uma pequena ilha situada no coração do mar Mediterrâneo, um improvável e desconhecido. Malta é um país Europeu privilegiado com o melhor do ensolarado clima mediterrâneo e era exatamente isso o que precisávamos. Com uma luminosidade toda particular, sua arquitetura revelou-me os milhares de anos de diferentes influências culturais que passaram por Malta entre pilhagens de piratas e conquistas de grandes imperadores. Ao percorrer suas estreitas e sombreadas ruas, podemos distinguir uma inesperada linguagem, uma possibilidade fonética talvez comum em um país árabe, mas completamente surpreendente. A vantajosa posição mercantil e bélica de Malta também serviu aos mouros, que deixaram na arquitetura e nesta estranha linguagem popular, o maltês, sua influência marcante que confronta com o conservadorismo estético das linhas anglo-saxãs.
Viver por, aproximadamente 8 meses nesse arquipélago paradisíaco realmente reduz a sua bagagem de adjetivos possíveis, pois em cada esquina permanece adormecida uma encantadora surpresa, tanto com a arquitetura quanto com o azul turquesa que esta sempre a figurar na paisagem. Mudamos para Malta em busca de novos horizontes, e lá o encontramos entre muitas peripécias e muito jeitinho brasileiro pra poder: arranjar um bico/emprego, encarar os transportes e a aspereza (por assim dizer) do transporte da ilha, para poder aproveitar o máximo daquele sol que brilhava incessantemente, já que depois de muita procura, nos apaixonamos por um apartamento a poucos metros de Balluta Bay e Spinola Bay, uma verdadeira jóia da qual fez parte do nosso tesouro que descobrimos bem no meio do Mediterrâneo, este mar que, todas as tardes, seja em um passeio despreocupado ou depois do trabalho, nos recebia para um mergulho e um espreguiçar ao sol nas rochas de Sliema ou nas baias de Saint Julians. Nestes mergulhos, aos poucos fomos fazendo amigos e entrando em contato com a cultura e os hábitos locais, e uma das melhores maneiras de o fazer é experimentando os pratos típicos. Logo estávamos indo as padarias tradicionais da ilha para pedir um pastitzzi (um tipo de massa folhada com recheio de requeijão ou pasta de ervilhas) ou fazendo nossa própria bigilla (pasta de feijões e alho, tremendamente saboroso com pães ou biscoitos).
Para fugir um pouco do clima de verão e mergulhar de cabeça na história dessa civilização que sobrevive a milhares de anos, pode-se optar por conhecer a bela cidade de Mdina e percorrer suas ruas sob o assombro de personagens medievais pitorescos. Quando se fala de Malta, invariavelmente, somos obrigados a verificar sua história e as civilizações das quais fez parte e a mais evidente parece ser a britânica e o passado comum da Europa medieval esta óbvio em cada rua e edificação de Mdina tanto quanto em outras cidades de Malta, mas é um erro acreditar que os costumes locais se assemelham ao supostamente brandos costumes das comunidades das ilhas bretãs, erro no qual incorremos em nossa chegada e se revelou como tal, já que tudo em Malta soa caracteristicamente árabe e foi essa mistura que adicionou o tempero que precisávamos para procurarmos a fundo conhecer e nos surpreender com os costumes locais e, são eles, completamente singulares, adaptado para viver em uma ilha disputada estrategicamente e dividida entre um passado de conquistas sobre conquistas. Piratas, mouros, espanhóis, italianos, britânicos, todos deixaram suas marcas de maneira ou de outra nesse destino imperdível para quem se imagina a caminhar pelas mesmas ruas que personagens históricos das mais diferentes nacionalidades.
Além da história dessa antiga cultura, a que pertence uns dos mais antigos e misteriosos templos megalíticos da história da humanidade, o arquipélago abriga cenários belíssimos, disputados no verão praias paradisíacas cliffs, vida marinha, e dois dos mais exuberantes são a Blue Lagoon, na pequena ilha de Comino, e a Blue Window, na ilha de pasmem Gozo.
Nas duas, você pode contemplar a bela paisagem natural e um exemplo absoluto da beleza mediterrânea e seus tons de azul em contraste com o relevo rochoso e lunar. Uma boa opção para a Blue Lagoon, para nós ao menos, foi comprar um pequeno bote por alguns poucos euros (pode ser um colchão inflável) para transportar alguns comes e bebes através do mar para a área mais remota da ilha, onde se pode aproveitar um pouquinho de privacidade e tranquilidade para um piquenique. A quem salte dos cliffs para um mergulho de 15 metros mas claro que você não deve tentar fazer isso, o Emi fez!
Emi saltando
No sentido contrário destes destinos, pode-se visitar as cidades menos turísticas (se é que existe tal coisa em Malta) como Santa Vannera ou, outra boa pedida, é aproveitar o domingo de feira do mar em Marsaxlokk. Certeza de fotos lindas e contato com os locais. Deste lado da ilha existem alguns lindos cenários onde se pode aproveitar o mar e um mergulho, novamente estonteado pelas belezas naturais, e um destes balneários chama-se Saint Peter’s pool que foi, sem sombra de duvidas, um dos lugares mais lindos da ilha para nós.
E é claro que a capital não poderia ficar de fora. A pequena cidade de Valletta (sim!!!) esta repleta de história, é de lá que todas as conexões de ônibus saem e isso também é digno de nota. Quando aterrizamos em Malta ficamos boquiabertos com o sistema de transporte público, que em seguida a nossa chegada foi substituído por uma companhia britânica (tudo abaixo de grandes protestos), mas ainda tivemos tempo o suficiente para nos espantarmos com motoristas fumando sem camisa à transportar passageiros de todas as partes do mundo em ônibus que eram mais que charmosos tanto quanto desconfortáveis. Sim, o estilo custava caro para nossas costas em acentos de mola e couro e as filas paras a entrada eram disputas desprovidas de civilidade, algo facilmente superado após alguns dias usando o transporte maltês. Hoje, os ônibus até são confortáveis, tem ar condicionado, os motoristas usam uniforme, mas continuam criando polêmicas na ilha, que é entrecortada por ruelas minúsculas, o que faz do trânsito local totalmente bárbaro.
Voltando ao turismo tradicional, a capital está cheia de atracões e tem atributos de poucas capitais além de ser pequeníssima e por isso, muito tranquila e intuitiva para visitar. Museus e catedrais contam a história deste arquipélago que conta até com uma ilha que servia de alvo para treinar os operadores de canhões britânicos, durante a segunda grande guerra. Tudo sobre a ilha e sua história pode-se encontrar em Valletta que também é porto e assim convivendo em uma realidade antagônica, entre o cosmopolita e o tradicional.
Para quem gosta de festa, nós encontramos muito, entre doses de tequila e coquetéis, na badalada Paceville que fica na cidade mais turística e movimentada, um ponto de encontro para quem visita a ilha, Saint Jullians. Essa cidade, que também foi nossa vizinhança por toda nossa permanência abriga restaurantes e passeios agradabilíssimo que terminam na movimentada Paceville, dançante e luminosa, foi palco de alguma comemorações bastante alegres. Uma dica está nas escadarias de Spinola Bay, o bar de reggae Jull’s Bar. Outra dica, os excêntricos cassinos da ilha são dignos de filmes de espião, mas na verdade lotado de velhas e velhos apostadores, vidrados nos dados, roletas e caça-niqueis, mas que garantem boas risadas e cenas de puro deboche. Também nas cercanias de Paceville, você não pode perder o Gochi Restaurant, um pequeno fast food oriental onde você pode aproveitar um totalmente autêntico e bem servido sushi pelo preço de uma entediante pizza. Algo de que os malteses tem orgulho é da marca local de cerveja, a Cisk, de sabor bem encorpado, acompanha bem qualquer sábado nas praias de areia localizadas no oeste da ilha, como a Golden Bay. E foi neste lado da ilha onde pudemos conhecer umas das mais interessantes (e desejáveis) casas de praia, que consistiam em cavernas as beiras de uma paisagem deslumbrante.
O melhor jeito de conhecer Malta é de carro. Todas as grandes redes de aluguel de automóveis têm serviço na ilha, e o preço sai em média de 15 a 30 euros a diária. O senão é a mão inglesa, o que pode preocupar quem está acostumado a ficar do lado direito da pista, por isso tenha cuidado. Claro que a melhor época para conhecer Malta é no verão, porém esta temporada se estende por muito tempo, com o período de chuvas, basicamente, isolado nos meses de inverno, altura onde a ilha se resguarda e um momento onde já estávamos a ser vencidos pelo sentimento de claustrofobia que nos provocava as barreiras naturais da ilha, mas ela se expande para além destas fronteiras quando percebemos o valor cosmopolita e único desta civilização totalmente aberta aos exploradores como nós. Tudo isso foi motivo de festa em nosso coração, por encontrar algo tão brilhante, cosmopolita e exótico dentro de uma das mais diminutas fronteiras da Europa. Lembranças que permanecem latentes e que nos enche de saudades e vontade de reviver tudo outra vez.
Um beijo especial para todos os grandes amigos que fizemos em Malta: Dani, Mariana, Mario, Ceiça, Luciano, Camila, Christine, Bruno, Nuria, Javier, Samuel, Chris, Philipe e a bebê Belinha.
Confira abaixo mais algumas fotos de Malta:
Se quiser mais informações e dicas sobre Malta, escreva pra gente!
Que delicia de post! Saudades de vcs!
Beijos meus e um especial p/ vcs da Belinha
Nossa que lugar lindo…que texto maravilhoso…..