É possível minimizar a quantidade de agrotóxicos nos alimentos? Confira!

No dia 10 de janeiro o Ministério da Agricultura autorizou o pedido de registro de 28 agrotóxicos e princípios ativos. No dia 18 de janeiro, foram mais 131 pedidos publicados.

Quais impactos isso pode trazer para a sociedade?

Para instituições de meio ambiente, saúde e trabalho, o Brasil está caminhando para uma situação catastrófica. Campanhas assinadas por órgãos como Organização da Nações Unidas, Anvisa e Ibama apontam que o uso prolongado desses produtos químicos mata a vida do solo e provoca uma “espiral química”. Isto é: quanto mais agrotóxico se usa, mais é necessário usar. Além disso, apontam que o uso de pesticidas não resolveu o problema da fome no país e afirmam que o atual modelo de produção torna a agricultura brasileira dependente de empresas gigantes transnacionais que dominam a produção e venda de agrotóxicos.

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Quanto agrotóxico consumimos?

Segundo a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), em média o equivalente a quase 8 litros por pessoa por ano. Esse índice faz do Brasil o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, posição que nosso país ocupa há mais de dez anos. Além disso, utilizamos muitos agrotóxicos que estão banidos em outros países, e em quantidades maiores. A soja é a principal consumidora de agrotóxicos e a cana-de-açúcar ocupa o segundo lugar. O IBGE aponta ainda que o uso de pesticidas aumentou 155% em dez anos no país sendo que 64% dos venenos aplicados em 2012 foram considerados perigosos e 27% muito perigosos.
Já o Paraná oscila entre o segundo e o terceiro maior consumidor de agrotóxicos no Brasil, com uma média equivalente a 7,5 litros por pessoa por ano, segundo a Abrasco.

Existe algum procedimento para minimizar a quantidade de agrotóxicos nos alimentos, como lavar ou deixar de molho?

Infelizmente, não. Não há nenhum procedimento que comprovadamente retire os resíduos de agrotóxicos dos alimentos. A lavagem com bicarbonato de sódio, por exemplo, minimiza a quantidade de resíduos externos, mas o agrotóxico tem uma função sistêmica, ou seja, mesmo que você o retire da casca das frutas, seu efeito é a nível da célula, que é onde os resíduos se armazenam. Por isso, é impossível retirá-lo uma vez que o alimento já foi contaminado. A única saída mesmo é investir em estratégias de produção sem agrotóxicos e, mais que isso, no acesso democrático a esses alimentos.

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E o que podemos fazer para evitar agrotóxicos?

Agrotóxicos não estão apenas na comida – e quando usamos a palavra “comida” estamos nos referindo a tudo, desde carnes, leite, ovos até bebidas, pães, macarrão, etc. Agrotóxicos estão na água, no solo, nas roupas, nos produtos de limpeza e – segundo pesquisadores – até mesmo no leite materno. Partindo desse raciocínio, como podemos ter menos agrotóxicos no nosso dia a dia?

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A boa notícia é que quase tudo que consumimos pode ser comprado sem agrotóxicos – e não necessariamente a preços assustadores. Vale procurar feiras de alimentos orgânicos e agroecológicos em sua cidade, onde os valores praticados costumam ser mais viáveis, já que são vendidos diretamente pelos camponeses que produzem.

Um aplicativo desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) disponível no site https://feirasorganicas.org.br permite consultar feiras em todo o Brasil. É possível encontrar hortaliças sem agrotóxicos sendo vendidas a aproximadamente R$ 2,50 menos do que hortaliças convencionais em supermercados.

Para evitar agrotóxicos, é importante evitar transgênicos e alimentos ultraprocessados, como biscoitos, salgadinhos, cereais matinais, refrigerantes, lasanhas, entre outros que têm como ingrediente o trigo, o milho e a soja. Esses alimentos contêm alta quantidade de agrotóxicos.

Lembre-se: na natureza, uma fruta, legume ou verdura não nasce o ano inteiro. Se o produto estiver fora de época, provavelmente maior quantidade de agrotóxicos e fertilizantes químicos foi utilizada para viabilizar seu crescimento. Dê preferência a produtos da época e locais, buscando conhecer de onde vem o alimento, quem o produz e como.

Cozinhe. Aquela velha máxima “descasque mais, desembale menos” é um mantra para quem deseja menos agrotóxicos na vida. Segundo a nutricionista Islândia Bezerra, o mercado foi muito bem-sucedido em difundir os alimentos congelados e processados como aliados da nossa rotina. Mas, com pequenas mudanças de hábito, é possível incluir uma alimentação mais saudável e variada no dia a dia e perceber que “a verdadeira fast food é aquela que a terra nos dá pronta”.

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Também existe um movimento das PANCs – Plantas Alimentícias Não Convencionais, espécies comestíveis de plantas, raízes, flores, frutos e tubérculos que não atingiram uma produção de larga escala e não têm valor comercial. O movimento resgata práticas tradicionais de consumo e valoriza essa grande variedade de alimentos baratos e nutritivos, que muitas vezes são descartados como “matos”. Alguns exemplos de PANCs: azedinha, taioba, cará, caruru, serralha, dente de leão, bertalha, capuchinha, hibisco, ora-pró-nobis, almeirão, mangarito. Mas pesquise bem. Nunca é uma boa ideia sair comendo plantas que você não conhece.

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REFERÊNCIAS E LINKS ÚTEIS:

Dossiê Abrasco: https://www.abrasco.org.br/site/publicacoes/24127/24127/

Portal de dados abertos sobre agrotóxicos: http://dados.contraosagrotoxicos.org/

Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a UE: https://www.larissabombardi.blog.br/atlas2017

Greenpeace – Segura esse abacaxi: https://www.greenpeace.org.br/hubfs/Greenpeace_SeguraEsseAbacaxi.pdf

Mapa de feiras orgânicas – aplicativo do Idec: https://feirasorganicas.org.br

A vida é um acontecimento extraordinário para ser passado sem um propósito, aqui queremos inspirar a mudança, a conexão com os ciclos da natureza, o resgate dos saberes ancestrais e manuais. Vamos juntos por esse caminho descobrindo que tudo que precisamos já está em nós mesmos.

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Uma opinião sobre “É possível minimizar a quantidade de agrotóxicos nos alimentos? Confira!

  • Reply Vinicius 9 abril, 2019 at 8:49

    Eu trabalho em uma agencia de defesa agropecuária e percebo que a eficiência do estado em fiscalizar o uso de agrotóxicos esta cada vez mais difícil. Hoje pela internet se compra agrotóxicos sem receita agronômica, que seria o mínimo de se exigir. Minha posição é contra o uso de agrotóxicos, pois não existem limites realmente seguros para o meio ambiente e se não é seguro para o meio ambiente não é seguro para ninguém.