Recentemente um leitor do Jardim do mundo nos perguntou se havia alguma explicação para uma pessoa gostar do aroma de um óleo essencial, ao mesmo tempo em que outra pessoa não gosta. Encontramos um estudo que explica um pouco desse mecanismo.
O estudo foi publicado no International Journal of Comparative Psychology, em 2004, com o seguinte título: Changing Odor Hedonic Perception Through Emotional Associations in Humans (Mudando a Percepção Hedônica do Odor Através de Associações Emocionais em Seres Humanos). Abaixo traduzimos um post que resumia o conteúdo do estudo científico e que pode nos ajudar a entender o motivo de amarmos ou odiarmos certos aromas.
Por que amamos ou odiamos certos aromas?
Esse post irá explicar a razão pela qual alguns de nós amam o cheiro de naftalina e outros não aguentam.
Pesquisadores da Brown University em Providence, Rhode Island, relatam que nossas respostas a certos odores são baseadas em experiências passadas com o aroma.
“A maioria das pessoas presume que todos nós gostamos do cheiro de rosas e odeiam o cheiro de gambá”, disse a pesquisadora-chefe Rachel Herz, PhD, professora de psicologia na Brown University. Mas “com a exceção de odores irritantes, o cheiro é algo que aprendemos com experiências pessoais e culturais”.
Em um experimento realizado com 30 mulheres, as participantes jogaram um jogo de computador na presença de um perfume personalizado, um pouco desagradável, que misturou sujeira, chuva e pipoca quente com manteiga. Se as participantes se divertissem enquanto jogavam, elas provavelmente relatariam gostar do odor que sentiam. Se elas não gostassem do jogo, não gostavam do cheiro.
“Consideramos a percepção de um aroma como uma lousa em branco, e porque gostamos ou não gostamos dele tem a ver com as experiências”, diz Herz.
No segundo experimento, 36 homens e mulheres testaram dois novos aromas, um ligeiramente floral, o outro limpo e aguado. Em um pré-teste, eles classificaram esses aromas, assim como os aromas de rosa, baunilha, limão e hortelã-pimenta. Os participantes classificaram os novos aromas como não familiares e agradáveis.
Mas não por muito tempo.
Um grupo entrou em uma sala perfumada e jogou um frustrante jogo de cartas de computador, repleto de efeitos sonoros irritantes e com cartas muito ruins que os faziam perder o jogo. Em contraste, outro grupo sentou-se em uma sala perfumada e leu revistas. Nos dois grupos, metade estava exposta ao aroma floral, a outra metade à fragrância aquosa. O terceiro grupo jogou o jogo de computador em uma sala sem cheiro. Todos os participantes jogaram o jogo de computador ou leram revistas em três sessões espalhadas ao longo de uma semana. Depois de cada sessão, eles avaliavam os seis aromas.
Os participantes foram mais propensos a marcar os novos odores agradáveis como desagradáveis depois de jogar o jogo frustrante.
A conclusão de ambos os experimentos é que quando um odor é emparelhado com um evento emocional, a percepção desse odor é alterada para se encaixar nessa associação.
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“Este estudo contribui muito para o estudo do olfato porque muito pouco foi feito em termos de experimentos diretos que analisam como ou porquê gostamos ou, não gostamos de cheiros”, diz ela.
Embora existam poucos dados empíricos, diz Herz, os estudos culturais respaldam os novos resultados. Considerando que os americanos tendem a gostar do cheiro de gaultéria, um ingrediente comum em doces e chicletes extraído de uma planta norte-americana, mas na Grã-Bretanha, onde a gaultéria é frequentemente usada para fazer remédios, o odor é menos agradável.
Existem, no entanto, algumas exceções a essa teoria. Os odores irritantes, como a amônia, podem ser imediatamente repugnados quando cheirados, e as diferenças genéticas individuais também podem desempenhar um papel nas respostas emocionais aos odores.
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O futuro cheira bem
No futuro, varejistas e donos de restaurantes podem usar perfumes personalizados para criar associações positivas para os consumidores, diz Herz.
“Nos hospitais, as pessoas mais positivas recuperam-se mais rapidamente do que aquelas com perspectivas negativas”, diz ela. “Nós poderíamos usar um cheiro que uma pessoa acha agradável e que pode ajudá-la a se sentir melhor, ou podemos fazer uma associação com um novo cheiro a sentimentos de bem-estar”, diz ela.
Alan R. Hirsch, MD, diretor neurológico da Smell and Taste Treatment and Research Foundation, em Chicago, disse que o uso e o papel dos aromas crescerão claramente nos próximos anos.
Em geral, os odores podem ajudar as pessoas a perder peso, aumentar a excitação sexual, aumentar a velocidade de aprendizado, reduzir a gravidade das enxaquecas e até mesmo acabar com a claustrofobia, diz Hirsch, que realizou vários experimentos sobre como os aromas afetam o comportamento, o humor e a percepção.
E “cada vez mais empresas procurarão ter um aroma associado a um produto específico, da mesma maneira que a empresa Play-Doh tem um cheiro específico que faz as pessoas recordarem a infância”, diz ele.
“Vamos ver mais e mais odores sendo usados para identificar as marcas de produtos”, diz ele. Ele prevê que em 10 a 20 anos, todos os produtos terão um odor específico.
Traduzido e adaptado de: Why We Love or Hate Certain Smells