Kirtan é um processo milenar no qual trabalhamos nossa espiritualidade por meio do cantar em processo devocional. Esse processo acontece em muitas religiões e práticas de base hindu e é acompanhado de instrumentos como violões, tablas, mrdangas, entre outros, é uma prática normalmente realizada em grupo e pode ser acompanhado de histórias e dança.
Em geral, quando pensamos em sons relacionados à devoção com base na cultura indiana sabemos que estamos muito familiarizados com a palavra Mantra, mas não Kirtans. Os poderosos mantras podem ser entendidos como uma prática mística e ritualística, recitada ou cantada repetidamente. O termo é uma palavra em sânscrito que significa controle da mente/ entrega da mente, sendo um instrumento para pensar e se alinhar. Assim, um mantra tem o poder para entregar a mente de consciência material ou a percepção, a consciência espiritual ou iluminação.
Como são parte dos Vedas, eles têm uma estrutura muito rígida, pois não se busca a musicalidade, mas a transmissão de uma informação, de um ensinamento. O mantra é repetido de forma a auxiliar a concentração durante a meditação, normalmente não sendo acompanhado de dança e ritmos instrumentais diversos.
Já as práticas de Kirtans se dão com maior descontração, parte-se do princípio que, se a mente está inquieta, com pensamentos dispersos sempre indo e vindo, em seguida, o processo de audição plena é interrompido, e o mantra não pode entrar em nossas mentes e corações, e, portanto, o processo se torna restrito.
Por esse motivo se introduziu o canto somando-se a dança nas práticas de Kirtans, pois quando estamos a cantar e ou dançar, então não estamos pensando; ficamos presos na música e dança. Quando o processo de pensamento se tranquiliza e a mente se aquieta, o mantra pode ser ouvido e a vibração do som entra em nossa consciência para purificar o coração. Como trata-se de um conhecimento e prática muito antigos, muitas pessoas atualmente encaram Kirtans e Mantras como significando o mesmo, com algumas poucas variedades em suas nuances.
As raízes do Kirtan tem mais de 500 anos na Índia. Durante este período, a influência e o estilo de Kirtan ganhou especial atenção, colaborando para o aumento na expressão religiosa. O clima alegre espalhou-se rapidamente por toda a Índia, onde hoje o Kirtan é aceito como um dos caminhos mais seguros para a iluminação.
O canto é acompanhado pela antiga tradição musical com um estilo de bateria rítmica que transporta os cantores para profundos reinos espirituais. Em seu fervor religioso e na sua expressão sincera ele se compara a estados profundos de meditação.
Conta-se que a prática do Kirtan teve início na Bhakti yoga, também conhecida como yoga do amor e da devoção, onde acreditava-se que o ato de cantar é a forma mais eficiente de despertar o devoto em nós, e a prática junto à meditação se tornam uma fonte eficiente para do despertar do estado de yoga.
Sendo assim, o Kirtan ajuda no sentido de focar e alinhar nossa mente com diferentes divindades e seus significados por meio da repetição de seus nomes e saudações. Os significados que carregam os Kirtans se relacionam intimamente com o que se espera alcançar e cultivar na vida humana em prol da evolução e crescimento.
Dessa forma, a devoção através da prática de Kirtans não só ajuda na concentração e foco da mente, e conexão com significados associados às divindades, mas também preenche o coração, trabalhando aspectos emocionais humanos e proporcionando aos praticantes extremo bem-estar ao se conectarem com o que está sendo cantado.
Para entender melhor como a prática funciona e como pode interferir em nossa vida cotidiana fomos conversar com a professora de yoga e praticante de Kirtans, Camille Serpa.
Camille, Por que você se interessou pela prática de kirtans?
Os mantras em geral constituem uma preparação para purificar os pensamentos e eles têm a capacidade de servir como foco para que a mente se concentre, isso traz como consequência o aquietamento da mente, além de ser uma forma de me aproximar da minha essência.
Houve alguma mudança no seu dia-a-dia desde que começou a praticar?
Me sinto mais conectada comigo mesmo e com o que me cerca. Já pratico há bastante tempo, praticamente desde que comecei a praticar yoga, há mais de 10 anos, mas nos últimos anos de tornou uma prática bem forte para mim.
Para você, qual o ponto mais benéfico da prática?
Você pode elevar o seu estado de consciência, aumentar a sua concentração e ficar mais perto de “Deus”.
Qual dica você daria para os interessados em conhecer e praticar kirtans?
Busque algo que faça você entrar em sintonia com você mesmo, os mantras em geral têm esse poder.
Camille pratica yoga há mais de 10 anos e é professora desde 2003. Atualmente ministra aulas de yoga nas academias Fórmula e Body Tech e de Pilates no Espaço Nirvana.
Separamos a seleção de artistas e Kirtans disponibilizada pelo yogapro para nossos leitores interessados em conhecer mais essa prática:
ARIANA SARAHA
Considera nascida para cantar, iniciou o seu trajeto pela música clássica e cloral, se tornando compositora em 1996. Compôs mais de 100 músicas e foi convidada a integrar a banda Sherefe que a introduziu em um novo mundo de escalas exóticas, ritmos e instrumentos. Ao longo do seu percurso apaixonou-se pela música devocional indiana e canta em Sânscrito desde então. Agora os seus estudos levam-na à música clássica indiana (raga).
DAVE STRINGER
Artista visual, realizador de filmes e músico de jazz, Stringer travou conhecimento com os cantos devocionais quando esteve no SiddhaYoga Ashram em Ganeshpuri, Índia, em 1990. Permaneceu um tempo no Ashram, o que lhe conferiu as fundações para o seu estudo das ideias, prática e música do yoga. Desde 200o, Stringer e a sua banda viajam pela América do Norte e Europa expandindo a audiência dos kirtan.
DAVID NEWMAN (DURGA DAS)
David Newman ou Durga Das, como também é conhecido, é um cantor de Kirtan e um praticante de Bhakti Yoga – o yoga do amor. David, um devoto de Neem Karoli Baba, viaja cantando Kirtan e partilhando o aspecto espiritual, devocional, meditativo e musical do yoga. A música de David tem as suas raízes na antiga tradição que acreditava no som como um caminho curativo em direção à auto realização (Nada Yoga), incorpora um misticismo devocional, musicalidade distinta, intimidade poética e um profundo respeito pela antiga tradição dos cânticos indianos.
DONNA DE LORY
Donna De Lory caminhou na música Pop americana durante grande parte da sua vida, atuando em todas as tours da artista Madonna. Com as suas práticas de yoga e imersão nesse estilo de vida começou a “abrir” os seus ouvidos. Assim começou a utilizar o sânscrito no seu repertório. Esta sensação de liberdade e propósito levou Donna ao seu mais recente trabalho, um CD de cânticos (mantras). Para Donna De Lory esta mistura de Este e Oeste, devoção e Pop, é apenas o seu próximo passo na sua evolução musical.
GINA SALÁ
Gina Salá é uma vocalista, compositora, diretora musical, terapeuta do som e professora de Seattle cujo amor pela voz humana levou-a a atuar e estudar por todo o mundo. Ela atuou no Pentágono, nas Nações Unidas e, recentemente, terminou um contrato como cantora principal do Cirque du Soleil. Com um repertório de 23 línguas, Gina Salá partilha a sua paixão por cantar para nos acordar para a nossa verdadeira realidade.
KRISHNA DAS
No Inverno de 1968, Krishna Das conheceu Ram Dass que tinha acabado de chegar da sua primeira viagem à Índia. Após viver e viajar com Ram Dass nos EUA e ouvir as muitas histórias de Ram Dass sobre maharaj-ji, Krishna Das viajou até à Índia, onde foi abençoado por poder conhecer e ficar com o seu extraordinário guru. Durante a sua estada de quase três anos, o coração de Krishna Das sentiu-se especialmente atraído pela prática de Bhakti Yoga. Maharaj-ji levou-o mais cada vez mais profundamente na prática de Kirtan – para cantar os Nomes de Deus.
SCOTT MEDINA
Scott Medina toca guitarra há 20 anos numa variedade de contextos. Ele editou um CD instrumental de guitarra acústica, e dois CD’s de cantos devocionais. Regularmente, ele dirige noites de cantos devocionais e as Danças de Paz Universal. Durante o dia ele é conhecido como “Scott o Homem da Música” por centenas de estudantes, já que ele dá aulas de música no estado de Boulder (EUA).
Dicas da autora de mais alguns artistas relacionados à música indiana e à prática de yoga:
WAH!
Wah! (pronuncia WAAH) é uma banda americana de new age e músicas indianas. Seu álbum Savasana já vendeu mais de 50.000 unidades em todo o mundo e continua a chamar a atenção da comunidade de yoga.
DEVA PREMAL
Deva Premal (Nuremberg, Alemanha, 1970), é uma cantora conhecida por seu estilo New Age de música espiritual e de meditação, que introduz mantras antigos em uma atmosfera atual.O parceiro de Deva na vida e música é Miten, com quem ele conheceu Osho Ashram em Pune (Índia) em 1990. Juntos, eles fazem música e shows em todo o mundo.
Seus álbuns seguem no topo da New Age em todo o mundo desde o lançamento de The Essence, com o Mantra Gayatri. Sua gravadora, Música Prabhu, já vendeu mais de 900.000 cópias. Em uma entrevista com Sam Slovik, Revista Los Angeles Yoga, Deva falou sobre o grande efeito que causa em muitos ouvintes quando canta mantras em sânscrito.
DANIEL BELLONE
Daniel Bellone tocava violão desde que tinha 10 anos, mas começou a perder a motivação para a música por volta de seus 20 anos, não sentindo mais a emoção e não conseguindo mais ver o sentido. Somente após a experiência de transformação,quando experimentou a devoção – “Bhakti”,a música retornou para ele de uma forma completamente nova. Ele afirma que não podia mais apenas chamar de música, pois já não a entendia mais somente com a mente, mas era algo completamente novo, diferente de tudo que já havia experienciando anteriormente, sendo para ele a língua do coração.
Fontes: Yoga Pro – Volta ao Supremo – Kirtan – Evolution Yoga
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Que artigo maravilhoso, adorei as dicas dos artistas