Diante de um mundo cheio de ruídos, no qual a comunicação se dá quase que exclusivamente por meio das palavras, a busca pelo silêncio está ganhando espaço.
E o que tem levado muitas pessoas a tal busca?
Se pensarmos que barulho, ruído e comunicação acontecem primeiro dentro de nós, numa espécie de fala interna e que essa fala interna determina nosso estado emocional e nossas ações, nos trazendo resultados, fica fácil identificar a importância do silêncio e o motivo da busca por essa nova forma de interação.
Todos estão de certa forma, buscando uma “oportunidade de fuga” em um mundo que cria a importância do estar presente e se comunicando o tempo inteiro, por meio de e-mails, mensagens, curtidas e tantas outras ferramentas de interação.
Estamos sempre ou quase sempre, em grupos e a todo tempo muitos pensamentos e ideias nos chegam. Por mais incrível que pareça, essa dinâmica da constante comunicação vem nos desgastando. Seguimos cada vez mais cansados e cheios de informações. Nem sempre sabemos o que fazer com tudo que temos e menos ainda com aquilo que nos é dado.
Vivemos assim, na sociedade da crítica abundante.
Muitos de nós estão despertando para a necessidade do silêncio. Não apenas por uma questão de saúde mental, espiritual e mesmo física, mas também como uma forma de autopreservação e lucidez e como uma forma de conviver melhor.
Quando o silêncio deixa as paredes de retiros e templos
Ficar em silêncio deixou de ser uma atividade individual e vai além de simplesmente “calar a boca”. Ficar em silêncio também deixou de ser uma atividade praticada apenas em mosteiros, retiros, templos e passou a compor o cotidiano de grupos de pessoas que sentiram a necessidade de silenciar e assim poder regenerar o espaço interior e criar uma relação mais verdadeira consigo mesmo e com o outro.
Muitos sentem que há uma comunicação mais sincera por meio do olhar e que são as palavras que acabam por distorcer verdades, intenções e sentimentos e que ambientes silenciosos favorecem a redução e mesmo a anulação de ruídos internos. Pensamentos negativos, inúteis acabam perdendo força, quando o silêncio ganha espaço.
Certamente que o silêncio pode significar diferentes coisas para diferentes pessoas. Enquanto algumas se sentem confortáveis e encontram no silêncio espaço para quietude e reflexão, outras ainda se sentem desconfortáveis. Isso ocorre, porque somos culturalmente imersos num relacionamento com o ruído e ainda acreditamos que o não falar é sinal de ignorar, de destrato e isolamento.
Quando o astro do evento é o silêncio!
Hoje, não é incomum encontrar atividades em que a proposta é silenciar. A prática do silêncio tem de fato, chamado a atenção.
Empresas estão investindo em momentos silenciosos por meio de atividades que envolvem meditação, exercícios, dinâmicas de auto- percepção. Tudo isso, para promover um ambiente mais aprazível e saudável.
Muitas atividades, quando praticadas em silêncio ganham uma qualidade maior. Não apenas pela concentração que o silêncio dá, mas também porque o silêncio mantém a mente mais refrescada e capaz de coordenar melhor os pensamentos.
De jantares silenciosos até grupos de estudo silenciosos … já encontramos inclusive documentários nos quais, nenhuma palavra é dita. A proposta é justamente “falar com a alma”, sentir, perceber, criar empatia verdadeira, se desprender da teia de conversas desnecessárias e cansativas.
O significado do silêncio e o fruto da prática
Quando silenciamos, causamos uma ruptura nessa fábrica social de inúmeras linguagens e aí, percebemos que nossa fala e que nossas vozes cobrem estranhezas, disfarçam medos e até nos afastam de uma conexão mais profunda com os outros.
O silêncio nos permite estar na presença do outro sem jogos ou estratégias, sem a ideia de julgar intenções. É uma suspensão temporária da confiança na fala.
“Ser falante” nos dá vantagens sociais, no entanto, ser silencioso nos obriga a mostrar aquilo que realmente somos e isso é libertador quando feito com abertura, sem medo e com propósitos mais elevados.
A fala é uma convenção social e o silêncio nos confronta com aquilo que de fato sentimos. Com um certo tempo de prática, quando vira hábito, tal confronto se torna então, conforto.
Só o silêncio nos permite ouvir nossa própria respiração, nosso próprio gargalhar diante da vida, o som de nosso estômago e de nossas necessidades.
O fruto da prática do silêncio é doce e nos solta de nossa própria auto restrição.
Muito bom.
O silêncio nos regenera.