Quantos de nós seguimos pela vida alicerçados em suportes temporários e transitórios? Muitos de nós. A vida por si só é transitória. Tudo muda o tempo todo no mundo, diz a música.
Nossos suportes temporários incluem: aprovação externa para que nos sintamos bem, jargões de personalidade (eu sou assim e não mudarei, tal coisa não tem jeito), alegria e sensação de preenchimento apenas com a presença de algumas pessoas em nossas vidas, apego a cargos, títulos, posses, etc. Tudo isso, dentro da ideia de mundo que temos, se apresenta como normal e adequado. No entanto, essa sensação ocorre porque estamos fincados em zonas de conforto e na ideia de que as mudanças e alterações daquilo que nos “faz bem” é algo ruim.
É até uma questão cultural que vamos propagando. Viver desse jeito nos mantém seguros. Viver assim é estar dentro da linha de sucesso e do que é esperado de nós. Em suma, vivemos apoiados nas demandas externas e para satisfazer as demandas externas.
Ocorre, que tudo isso que nos satisfaz atualmente e que nos tem dado felicidade, oscila. Vivemos a felicidade temporária. Humores oscilam, decisões mudam, posições deixam de existir, substituições são naturais, perdas também. Viver apoiados e entregues ao que muda constantemente nos deixa sempre com aquela sensação de vazio e de que algo nos foi tirado, de que fomos injustiçados, enganados. Essa sensação nasce do sentimento de apego e posse que faz parte de nossos pensamentos diários.
Damos amor somente se o recebermos. Somos gentis se forem gentis conosco. O bom dia só existe se for recíproco. Estes são apenas alguns exemplos do quanto nossos pensamentos acabam se ajustando a um padrão negativo e são estes pensamentos que se tornam ações. Há quem diga que a e preciso reciprocidade e que as coisas só funcionam com a presença dela.
Exatamente! Quando nos movemos neste padrão negativo de dar somente ao receber também não receberemos. É a tal reciprocidade. Estamos segurando a energia positiva que há em nós e, portanto, não a receberemos de jeito algum. A reciprocidade acontece do eu para o Universo e não do eu para outra pessoa. Esse é outro pré-conceito que temos. Acreditar que as coisas acontecem de pessoas para pessoas. Na verdade, as coisas acontecem do eu para Algo Maior e aí atinge as pessoas, atinge o todo. Já pararam para pensar nisso?
Vivemos nesse ciclo de entropia que a tudo desgasta (o que também é natural) e isso é um fato a ser aceito. Quanto aceitamos (o que é diferente de se diminuir) algo como um processo, como um ciclo, entendemos e nos reajustamos. Não oscilamos juntos com os eventos externos.
Quando criamos embates e nos deixamos ser jogados de um lado para o outro com as mudanças, vamos ficando cada vez mais distantes de nossa identidade real, de nossos valores e de nossa força e quanto mais ficamos distantes de um centro de energia vital e limpo, mais confusos, cansados e carentes nos tornamos. É assim que criamos essa dependência do bem-estar baseado somente no que o externo nos dá. Se algo não nos é dado, então sucumbimos e nos sentimos incapazes. Geramos logo a experiência de não pertença que nos afasta da beleza da vida. Ficamos vendados a tudo que nos rodeia porque estamos segurando em dúvidas, achismos, julgamentos, medo.
Assim, exatamente assim, que muitas de nossas doenças nascem. Antes nos pensamentos, até que atingem nosso corpo físico e apagam o brilho de nossa bonita alma. A partir daí, deixamos de sonhar, de realizar. Passamos a reagir a tudo, mas não a agir. Uma cadeia de sofrimento e angústia é criada. O giro que damos em nossa jornada de vida é muito especial para ter como combustível pensamentos inúteis e negativos. O mundo tem sido reflexo de nosso jeito atual de ser, mas não do jeito que verdadeiramente somos.
Concentração
Quando paramos e saímos do turbilhão, quando criamos um espaço para concentração e reconhecimento do cenário de nossa vida, somos capazes de refazer a rota, de aliviar a bagagem. A meditação é uma ferramenta excelente para começar uma nova jornada, para facilitar esse reconhecimento do que precisa ser melhorado, deixado, transformado.
Meditar é reeditar, é reformatar toda nossa “maquinaria”, limpar. É de fato, como se nossa versão original fosse retirada de um escombro de ilusões. É um verdadeiro resgate de si.
Meditar começa com concentração, com pausa e posteriormente vira rotina, sendo feita até em movimento, nas atividades diárias. Meditar não é difícil.
Criar momentos de silêncio, de pausas ao longo do dia é um bom começo. Mesmo na rotina de trabalho diária! Um minuto a cada uma horinha é um grande benefício. Um minuto para relembrar a natureza original que temos que é paz, que está plena de qualidades, de virtudes, de valores e poderes. Reeducar a mente e o intelecto que julga e analisa o tempo todo, nesse um minuto, pode parecer impossível, mas é plenamente possível.
Procurar por um minuto não cobrar a si, não criticar a si e a nada, não se diminuir, mas apenas a se lembrar da identidade original e bonita que existe em nós, deixa o dia mais leve, ainda que o dia tenha seus contratempos. Aos poucos as situações deixam de ser obstáculos e desafios e passam a ser momentos de aprendizado. Um verdadeiro jogo, no qual um papel é interpretado. Como já foi dito: tudo muda, tudo segue a lei da entropia, menos quem se é de verdade muda. Esse ser permanece intocado e puro. Com essa aceitação, a harmonia volta a se integrar ao cotidiano, porque a base está firme, a base não oscila mais, não está mais no temporário.
Meditar nada mais é que lembrar! Lembrar quem se é. Lembrar que a força de uma arvore grandiosa que concede frutos e sombra, flores e beleza está na semente, na muda e não nos galhos que estão expostos as mudanças climáticas de fora. Meditar é justamente manter-se na experiência de ser semente e tal experiência sempre trará vitalidade ao corpo, a alma e sucesso nas tarefas.
É a meditação que nos ajuda a escolher que tipos de pensamentos vamos alimentar. Quando alimentamos pensamentos positivos, a tendência das ações é serem positivas, porque o próprio ser está imerso nesta energia. Há um sentimento de satisfação mais constante, um desapego natural do criticismo, dos julgamentos, porque a confiança volta a florescer. A confiança em si e nos potenciais inatos de cada alma se torna a força motriz, ou seja, mesmo que algo deixe de fazer parte da rotina, um papel deixe de ser nosso, há uma capacidade de resiliência que emerge e gera transformação.
Certamente que meditar não anula nossas responsabilidades e nem nos tira da realidade. A meditação, muito pelo contrário, nos inclui na realidade de uma maneira mais centrada e responsável. Sabemos que o resultado de nossas ações são reflexos de como estamos por dentro e esse entendimento faz com que nos tornemos mais alertas e nos cuidemos mais, emocionalmente, espiritualmente e mesmo fisicamente. Nossa participação é mais ativa e cooperativa. Deixamos de lado a ação de culpar e competir para a ação de contribuir, de criar a melhoria.
Transformação necessária e possível
Quando mudamos o mundo muda e não o contrário. Tal frase é famosa e verdadeira. Meditar nos dá esse entendimento. Meditar não significa desligar -se, ficar com a cabeça plenamente vazia e menos ainda significa apenas relaxamento. Meditar na verdade, transforma nosso espaço interior por completo, já que coloca tudo em seu lugar: passado, atenção plena no presente e menos ou nenhuma expectativa com futuro.
Meditar nos apresenta justamente os três aspectos do tempo e sem mistérios, sem adivinhação. Sabemos apenas que o que foi não pode ser mudado, mas que algo pode ser aprendido. Que o presente, o agora precisa de concentração e empenho, precisa de amor, de cuidado para que o futuro então nos traga uma boa colheita. Meditar então é ficar como semente num solo constantemente fértil. Meditar nos reanima de um sono profundo e nos tira da dependência, do status de pedintes de atenção, de amor. Meditar nos deixa ser, exatamente o que somos. Nos mostra uma realidade que está além da suposta realidade. Meditar é uma conexão com a Verdade.
É a velha historia da flor de lótus que ainda no lodo, não se polui. Meditar nos transforma e nós transformamos situações. Meditar nos devolve os poderes que já temos e que estão livres de ganância, mas cheios de benevolência e compaixão.
Esse processo é muito bonito e nos concede uma respiração mais tranquila, uma visão mais bonita e voltada as qualidades, uma escuta mais atenta e uma fala mais doce com grandes momentos de silêncio. Estes então, muito necessários nessa jornada de reencontro!
Medite. Medite e medite.