A nossa perspectiva sobre um dos destinos turísticos mais famosos do planeta
Um ônibus atravessava lentamente a escuridão em direção ao semi-árido baiano, onde a mata oceânica deixa seu frescor para trás para dar lugar aos cactos, palmas e a vegetação baixa e espinhosa. Aparecendo hora sim, hora não entre os flashes de luz, dava-nos uma amostra das chamadas Gerais, misteriosa paisagem da Chapada Diamantina.
Fazia um tempo que planejávamos uma visita a este, que representa o terceiro destino de caminhadas mais visitado do mundo, porém sua complexidade de trechos e inumeráveis atrações sempre retardou nossa partida em um longo planejamento. A chance imperdível apareceu quando contatamos a agência de turismo de aventura Nas Alturas e fechamos um pacote para experimentar o mais completo roteiro da Chapada, cobrindo (quase) toda sua extensão, de norte a sul. Nas Alturas é a única agência da Chapada certificada pelo INMETRO e ABNT. Sabíamos dos riscos de explorar um lugar tão imprevisível, por isso a confiança no atendimento personalizado do Nas Alturas foi fundamental para nos transmitir total segurança. Contando apenas com nossas pesquisas seria difícil organizar um roteiro tão completo.
Nosso Roteiro
A Rota do Sincorá, compreende as mais proeminentes atrações da Chapada Diamantina que, mais que um parque nacional, incluí diversos municípios e sua história remonta os tempos do garimpo, atividade que lapidou seus relevos e expôs as mazelas de homens e mulheres atraídos pelo brilho de diamantes que abundam na região.
O que vimos foi um amor profundo e um conhecimento tão profundo quanto, de todos os habitantes e guias, nativos ou não, que mostram em conversas admiradas, sua devoção por esse pedaço de chão encravado de morros, platôs, cachoeiras e grutas, rios sinuosos que hora desaparecem nas profundezas para aflorar mais adiante, formando quedas e servindo as mais diversas fotos e selfies de turistas boquiabertos.
Boquiabertos como nós, chegando na calada da noite na tranquila lençóis, que hoje se ergue em casarões coloniais, onde antes perfilavam barracas de lona branca abrigando garimpeiros e que ao longe, pareciam um enorme varal de lençóis secando ao sol.
A atmosfera não poderia ser mais convidativa nesta bucólica Lençóis, que é a porta de entrada da Chapada Diamantina. A cidade respira turismo e podemos encontrar em suas ruas viajantes de todos os lugares do mundo, indecisos para escolher um restaurante entre as inúmeras ofertas de pratos gourmets e regionais. A nossa dica é experimentar o exuberante e exótico cardápio do Cozinha Aberta e o modesto e delicioso Restaurante da Chapada, na esquina oposta do escritório do Nas Alturas.
Ainda em Lençóis é possível curtir muito nas imediações, aventurando-se nos Poços do Serrano, Salões de Areias Coloridas, Cachoeirinha e Cachoeira da Primavera, apenas 10 minutinhos do Hotel de Lençóis, onde ficamos confortavelmente instalados. O Hotel se preocupa com o impacto ambiental e presa pelo turismo sustentável, veja aqui.
Primeiro dia
Gruta da Lapa Doce, Fazenda Pratinha e Morro do Pai Inácio
Deixamos o delicioso Hotel de Lençóis para pegarmos nossas mochilas “nas alturas” em sua sede e de lá já rumamos em direção a gruta da Lapa Doce, destino que inclui uma travessia completa nas profundezas dessa gruta que fora um leito de rio subterrâneo. Repleta de estalactites e estalagmites, cruzamos salões adormecidos na profunda escuridão, perturbado apenas por nossas lanternas observando as formações calcárias nessa que foi nossa primeira experiência abaixo da terra.
Saímos para a luz do dia em direção a Fazenda Pratinha, para mergulhar em águas tão claras e transparentes como cristal, repleta de peixinhos a nos mordiscar em brincadeiras submersas. Momento de total relaxamento e curtição.
Em seguida voltamos a estrada para encarar a ultima atração do dia. Assistir o pôr do sol do alto do Morro do Pai Inácio, platô que forma um dos principais cartões postais da Chapada Diamantina, e a melhor maneira de terminar um primeiro dia de exploração, observando a imensidão avançar para além da vista. Resumidamente este dia inclui pequenas e tranquilas caminhadas, com um grau de dificuldade um pouco mais acentuado durante a subida do Pai Inácio. Aproveitamos o resto da noite para descansar e aproveitar a hidromassagem e sauna do Hotel de Lençóis.
Segundo dia
Cachoeira da Fumaça e Vila do Capão
Partimos de lençóis em direção a vila do Capão, lá iniciamos uma trilha de 6km em direção a impressionante Cachoeira da Fumaça, onde as águas do rio repentinamente assume a forma de nuvem a se precipitar de uma enorme e abrupta queda, onde só é possível admirar deitado a beira do enorme precipício.
A trilha começa em uma subida íngreme de onde se pode admirar a beleza do Vale do Capão, repleto de quaresmeiras/manacás em flor, milhões de pontinhos violeta a cobrir o vale. Logo a trilha se abre em um trecho de planalto, onde podemos distinguir a necessidade de nossos guias, já que a trilha é de difícil visualização – um trecho que carrega uma história trágica, de quando um rapaz arriscou sozinho a travessia sobre protestos de guias experientes e acabou perdido. Seus restos mortais só foram encontrados um ano e meio depois, próximo de um diário, testemunha de seus últimos momentos de vida. feliz de nós, acompanhados de guias, profundos conhecedores da região e dos protocolos de emergência em situações extremas.
Entre conversas chegamos ao alto da cachoeira da fumaça. Impressionante, ela exige total respeito e cuidado em sua vertiginosa queda. Tempo de um lanchinho e muitas fotos, curtimos as alturas para tão logo retornarmos nos mesmos 6km de volta. Desta vez, a falta de atenção em um pequeno deslize vitimou este redator, que teve uma torção no tornozelo e precisou de mais atenção ao completar a descida.
Logo chegamos ao parque municipal para um banho de cachoeira e logo rumamos a Pousada do Capão, com uma vista lindíssima, deitei na rede que tinha em nosso quarto e pude cuidar do pé com muito gelo e um bocado de anti-inflamatório. Trilha de leve a moderada, com especial atenção a descida 😉
Terceiro dia
Trilha Capão > Guiné
A atenção, nesta manhã, estava para o condicionamento do meu pé, pois a torção trazia desconforto ao caminhar, o que certamente limitaria meus movimentos durante a trilha mais longa de nosso roteiro, a travessia Capão – Guiné, onde experimentaríamos as planícies dos campos Gerais e suas vistas incríveis para os paredões da chapada ao longo de 23km de caminhada.
Lara, Edu, Vivian e nosso competentíssimo guia, Vini me ajudavam o tempo todo, e com a ajuda de bastões de caminhada, que suportava a maior parte de meu peso do lado esquerdo, começamos bem a subida entre a floresta do baixo vale até o planalto das gerais. Nessa vastidão podemos nos deter em nossos pensamentos em uma imensidão sem fim, limitado por cada passada, avançando e ganhando terreno.
Vistas de tirar o fôlego e a intensidade da caminhada marcam o trajeto que tem um final ainda mais belo durante a descida entre uma fenda, percorrida por bravos rebanhos de gado e animais de carga, que desde tempo imemoriais, e até hoje também, pasmam diante de tão letal e impressionante cenário.
Terminamos a trilha e de carro, percorremos alguns quilômetros até mais uma simpática cidadezinha chamada Mucugê, com seu cemitério bizantino iluminado ao pé do paredão e sua vida de pacato vilarejo. Trilha intensa, com dois momentos de subidas acentuadas.
Quarto dia
Cachoeira do Buracão
Chegamos a um dos pontos de maior emoção para nossa trupe, que agora, passados de desconhecidos a companheiros de viagem, estava mais unida que nunca. Todos foram companheiros ao me auxiliar com o pé machucado e estávamos muito envolvidos com nosso destino, Lara e eu e Eduardo e Vivian, um querido casal de São Paulo que estiveram presentes do começo ao fim dessa jornada e acabaram se tornando nossos grandes amigos. Com muito papo saímos da Pousada de Mucugê e logo nos vimos novamente com o pé na trilha. A essa altura meu pé já não representava obstáculo, enquanto operava os bastões de caminhada com habilidade.
Uma caminhada tranquila nos divertia, acompanhada pelo guia local e mais um par de conversas que se silenciavam ao aproximar do cânion, uma fenda nesta característica rocha local, de onde retumba a cachoeira do Buracão. Ela não se revela antes de seu estrondoso ruído e que, desta vez, estava especialmente intenso devido as chuvas, que de escassas passam ser a rotineiras em maio, o que torna os mês um dos melhores períodos do ano para visitar a região.
O ruído da cachoeira aumenta enquanto nadamos contra a correnteza, em sua direção, nadando no interior dos paredões que desaguam sua água especialmente gélida naquele ponto. Quando avistamos o monstro, ela respirava viva em um borrifo continuo, de todos os lados, nos fazendo vibrar, agora aportados nas plataformas naturais que se formam na sua lateral.
Pulamos na água e brincamos como crianças aos urros, entregues a grande emoção que foi conhecer este lugar lindo, intenso e imperdível. Trilha fácil até a entrada da cachoeira, onde se pode nadar entre os cânions ou andar pela lateral até visualizar a cachoeira.
Quinto dia
Poço Encantado, Flutuação no Poço Azul e Igatú
Um dia todo dedicado a contemplação de exuberantes fenômenos da Chapada Diamantina, coroado com uma improvável jóia do garimpo e aquilo que para mim, se tornou o lugarejo mais charmoso da região – Igatú.
Iniciamos os trabalhos do dia descendo o lance de degraus que nos conduz até a entrada da gruta do poço. Já sentíamos a adrenalina correr no claustrofóbico subterrâneo, cientes de que testemunharíamos um verdadeiro espetáculo. Uma passagem estreita logo revela um amplo salão onde nada chama mais a atenção do que o festival de luzes e reflexos, formados pelo feixe de luz que penetra na câmara por uma fenda na parede, atingindo a água como um raio e revelando um azul intenso e quase neon. São poucos os adjetivos capazes de traduzir com alguma fidelidade o visual do interior da gruta do Poço Encantado.
Descoberto por um caçador belga durante uma de suas caçadas, hoje o poço encantado é um dos mais lindos fenômenos da Chapada. Notável é o carinho dos guias pelo lugar, demonstrando muito conhecimento sobre a história e extremo comprometimento na preservação dessas belezas naturais.
Em seguida rumamos, entre grandes expectativas, para a flutuação no Poço Azul. Igualmente impressionante e com características semelhantes ao Poço Encantado, no Poço Azul é possível nadar e se sentir suspenso no ar em uma água de puro cristal, revelando um lindo azul, refletindo o feixe de luz que penetra na caverna por uma fenda. Sua profundidade desenrola-se em uma rede de cavernas submersas onde foram descobertos exemplares pré-históricos de preguiças gigantes.
Terminamos o dia conhecendo a pequena Igatú, vilarejo de aproximadamente 400 habitantes que já foi parte do centro nervoso do garimpo da Chapada Diamantina. Uma atmosfera totalmente única é encontrada em Igatú, onde você pode ver um diamante de verdade nas mão de um garimpeiro nativo e experimentado – seu Guina, dono do mercadinho no centro do vilarejo. Descanso na peculiar Pousada Flor de Açucena, que tem lindo quartos inspirados na natureza, relevo e histórias de Igatú.
Dia bastante tranquilo de trilhas curtas e cômodas.
Sexto dia
Cachoeira do Mosquito e Poço do Diabo
Nosso último dia incluía muito banho de cachoeira e muita estrada, já que seria hora de voltar a Lençóis e se deliciar com as memórias desse passeio, enquanto nos preparávamos para deixar a Bahia rumo a cobertura da Naturaltech e Bio Brazilfair- Feira internacional de Orgânicos e Produtos Naturais, na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo.
A cachoeira do Mosquito, nosso primeiro banho, leva esse nome por conta de diminutos diamantes encontrados no seu leito, pedras que na região são conhecidas como mosquitos, diamantes imperfeitos que não apresentam condições de serem lapidados e tem um valor relativamente menor.
Não perdemos a oportunidade de procurar a sorte grande em alguns punhados de cascalho, porém a diversidade de cores e contrastes das pedras em diversos formatos foram o suficiente para nos encher os olhos. Relaxando profundamente sob a força da cachoeira, nos energizamos e retornamos pela mesma trilha para almoçar e seguir para nosso derradeiro destino antes de retornar a Lençóis – O Poço do Diabo.
Dizem que leva esse nome por ter se tornado sepultura de escravos fugidos – um poço profundo diante de uma linda cachoeira que hoje oferece muito lazer e diversão aos visitantes. Saltamos das formações rochosas a margem do poço no mais puro regozijo e conforme nos aproximávamos da hora de retornar, uma certa nostalgia já dava as caras, na certeza de que esse lugar deixa muito espaço para saudades. Abastecidos de lembranças concluíamos essa missão com sucesso.
Verdade é que este se mostrou um destino extremo e intenso, oferecendo a nós e nossos companheiros de viagem (principalmente nossos novos amigos Vivian e Edu, que aparecem logo acima) a oportunidade de experimentar a região de uma forma totalmente singular, com muita segurança e munidos de todas as oportunidades para conhecer estas, que são as mais procuradas atrações da Chapada Diamantina.
Agradecimentos
Agradecimentos especiais a Vanessa e toda Equipe Nas Alturas por formular nosso roteiro e nos receber com grande acolhimento, a Vinícios e todos os outros guias que nos orientaram, contaram histórias e nos conduziram com segurança por todo trajeto e ao nosso casal do coração que curtiu ao extremo cada minuto dessa viagem conosco, Vivi e Edu, já estamos com saudades!
Dicas
- Contate a Nas Alturas – Turismo de Aventura em Lençóis para atendimento personalizado, guias especializados e segurança no roteiro.
- O Hotel de Lençóis é a melhor opção para quem quer conforto, bom atendimento e relaxar na volta do roteiro, lá você poderá curtir uma hidromassagem enquanto curte uma deliciosa caipirinha.
- No Capão (Caeté-Açu), recomendamos a Pousada do Capão, totalmente integrada à natureza, com vista para os morros do Vale do Capão e a sensação de paz inigualável.
- Em Mucugê a pedida é a Pousada Mucugê, casario antigo, os quartos em estilo rústico, o ambiente histórico e o café regional contribui para uma excelente estadia.
- A Pousada Flor de Açucena em Igatú nos surpreendeu pelo elemento humano, os funcionários nos acolheram de uma forma surpreendente e nos fizeram se sentir em casa. A pousada foi construída aproveitando as rochas e os espaços deixados pelo garimpo, com um profundo respeito a história local. Nitidamente uma das atrações de Igatú.
- Cozinha Aberta – Soul Food para um jantar inesquecível. O restaurante mescla ingredientes exóticos e regionais, os pratos são saborosíssimos e as sobremesas são uma atração a parte, o sorvete de chocolate com pimenta e cachaça e calda de fruta da estação; e sorvete de cardamomo com brownie vão enlouquecer você.
Adorei, fiquei ainda mais tentada em conhecer! Uma pergunta, qual o o gasto dos 8 dias de passeio? Considerando hospedagem, alimentação, guias.
Ps. Renderam fotos maravilhosas heim!
Olá Ro,
Depende muito do roteiro, a agência providenciou todas as hospedagens, mochila, guia, transporte e almoço de todos os dias. A melhor maneira é conversar com eles e escolher o seu roteiro, eles são super flexíveis e atenciosos. No site da agência tem os roteiros disponíveis e os valores, caso você queira alterar qualquer coisa seja porque você não tem preparação, porque não tem muito tempo ou porque não tem capital o suficiente eles adaptam tudo pra você. 🙂 Aqui o site deles: http://www.nasalturas.net/ Beijnho