É tempo de colheita de cogumelos silvestres nas regiões mais frias do Brasil. Diante da pandemia, a atividade mais animadora para nós atualmente, e desde sempre, é ir para floresta colher e identificar cogumelos silvestres.
Colher e identificar cogumelos é um hobby divertido que pode envolver toda a família, além de garantir ótimos momentos em meio a natureza, colher cogumelos é sinônimo de economia e boa alimentação.
Os cogumelos são altamente nutritivos, os fungos são ricos em vitaminas, proteínas
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Para além do papel nutritivo, os fungos desempenham um papel importante no ecossistema. Confira no decorrer da matéria algumas regras de conduta para consumir com segurança e repeito a natureza.
Abaixo ensinaremos a como identificar 3 tipos de cogumelos silvestres muito comuns, principalmente na região sul do país.
1- Boletus edulis (Cogumelos Porcini)
Boletus edulis são mais conhecidos como os cogumelos Porcini, queridinhos dos italianos e raros de encontrar para comprar no Brasil, já na natureza são abundantes. É o meu preferido!
O chapéu pode alcançar grandes dimensões, até 30 cm de diâmetro. De cor castanho, com a margem mais clara. Muito carnudo e mostrando-se ligeiramente viscoso em tempo de chuvas.
Pé cheio e duro, tão carnudo ou mais que o próprio chapéu, de cor geralmente branco com uma fina retícula na parte superior.
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Valor gastronômico: Carne branca e imutável em contato com o ar, duro quando é um exemplar jovem e vai tornando-se mais esponjoso com a idade. De odor fúngico agradável e sabor a avelã.
Fica ótimo grelhado com azeite de oliva de qualidade e alho, também na substituição da carne no estrogonofe.
Época: Frutifica no outono e se estende para o inverno.
Habitat: Frequentemente encontrados nas raízes de carvalhos, próximo a castanheiras e bosque de pinheiros.
2- Lactarius deliciosus
Esse cogumelo também muito apreciado na culinária européia tem um sabor picante e é bem leitoso.
A espécie é facilmente reconhecida no campo pelo seu corpo de frutificação, destaca-se pela sua cor totalmente laranja , outra característica é que quando cortamos para o colher, solta logo um leite cor de laranja escuro no local do corte.
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Quando tocamos sem delicadeza, provocamos uma “ferida” que oxida e vai ganhando uma cor esverdeada, sendo assim bastante fácil identifica-lo.
Valor gastronômico: Carne dura e compacta. De odor fúngico normal, ideal para preparar na grelha ou no forno e também para fazer escabeche.
Época: Frutifica da primavera ao inverno
Habitat: Espécie típica de coníferas, facilmente encontrado debaixo de pinheiros em solos neutros ou calcários.
3- Agaricus campestris
Esta espécie é muito comuns em pastagens, por isso, também é conhecida como champignon do campo.
O Chapéu tem de 5 a 10 cm de diâmetro. A cor do chapéu é branca e a margem apresenta franjas, abaixo do chapéu nas lâminas a cor é rosada.
O pé cilíndrico e proporcional ao tamanho do chapéu, incolor, cheio e sem escamas. Uma das características fundamentais é que é facilmente separado do chapéu. Possui um anel simples e ascendente da mesma cor que o resto do corpo frutífero.
Valor gastronômico: Carne espessa e consistente de cor branca, com o odor fúngico agradável e sabor doce igualmente agradável.
Época: Frutifica tanto da primavera ao inverno.
Habitat: encontra-se em pastagens de baixa altitude, logo após as chuvas precedidas de período de estiagem longo. Aparecem geralmente em grupos.
Normas para Boas Práticas de colheita de Cogumelos Silvestres
Para garantirmos que os cogumelos silvestres é necessário estabelecer e cumprir algumas regras para a sua colheita, garantindo a sua preservação futura e se possível promover o aumento da sua produção.
1. Colher apenas as espécies conhecidas (pretendidas) e unicamente na quantidade que irá consumir
Evite colher espécies desconhecidas só por curiosidade, observe mas não toque. No caso de cogumelos comestíveis não apreciados, devem deixar-se intactos uma vez que interessarão a outros que os apreciam.
Os cogumelos não comestíveis e até os venenosos, também têm funções ecológicas benéficas para a floresta, assim como para o ambiente.
2. Utilizar apenas utensílios ou ferramentas que não removam o solo
Utilizar apenas um pau com ponta afiada ou uma faquinha, de forma a levantar ou destacar os cogumelos sem remover ou perturbar o solo, evitando assim a destruição local do micélio, que poderá produzir outros cogumelos no mesmo local e no mesmo ano.
Depois da colheita tape o espaço aberto com um pouco de terra provocando uma ligeira compactação utilizando um dos pés. O uso de ferramentas ou utensílios que removam e revolvam o solo e/ou a folhada deverão ser excluídos na colheita de todos e quaisquer cogumelos.
3. Use uma cesta de vime para carregar a colheita de cogumelos
A cesta além de permitir o arejamento, também permite a disseminação dos esporos libertos pelos cogumelos colhidos. O uso de latas, baldes e sacos de plástico são totalmente desaconselháveis.
4. Não apanhar cogumelos muito jovens e nem em fases de avançada maturação
Os cogumelos demasiados jovens são mais difíceis de identificar e ainda não libertaram os esporos, servindo também menor quantidade de produto a consumir.
Os cogumelos em estado adiantado de maturação podem ser indigestos, devendo deixar-se no local sem perturbação para que dissemine os seus esporos, garantindo a propagação da espécie no desenvolvimento de novos micélios.
5. Em caso de dúvida na identificação dos cogumelos não colher
Esta é uma norma fundamental. Não conhecemos ou temos dúvidas? Não colhemos e assim não teremos a tentação de os consumir.
É no entanto muito importante que todos aqueles que se interessem pela micologia, procurem informar-se convenientemente, aprendendo a identificar e reconhecer com segurança, as espécies que pretendem colher e consumir, assim como aqueles que não são comestíveis em especial os que são tóxicas.
Nós, além de sermos biólogos, já fizemos algumas saídas para colheitas com pessoas experientes na área e sempre que temos dúvidas recorremos aos grupos de cogumelos do facebook. Carregamos fotos com todos detalhes do cogumelo e os usuários nos ajudam na identificação da espécie, indicando se é comestível ou não.
6. Para aqueles que se dediquem a um turismo de natureza ou educação ambiental
Deverão levar equipamento específico:
– Uma cesta de vime que permita o arejamento e a disseminação dos esporos dos cogumelos;
– Um pequeno pau afiado ou faca;
– Um caderno de campo para registos e um lápis anotar todos os detalhes observados;
– Uma máquina fotográfica para tirar algumas fotografias e compartilhar com a grande rede.
Boa colheita!