Como sabem alguns, a quase seis meses nos mudamos para a Alemanha para estudar a língua e levarmos adiante nossos projetos de viagem e sustentabilidade, reportando-os aos que acompanham nosso querido Jardim do Mundo. A língua já não é mais um bicho de sete cabeças como fora desde que chegamos aqui e um período de dormência se fez necessário para nos darmos por inteiro ao que fazemos, e os frutos vamos colhendo cada vez maiores e mais abundantes.
Como as plantas que crescem em direção ao sol e se fortalecem na rigidez inverno, trouxemos nosso animo para níveis mais baixos e concentramos nossa energia em novas áreas e na necessidade de depurar o organismo dos efeitos redundantes e apopléticos que advêm como consequência do excesso de tecnologia.
O Jardim permaneceu adormecido pelo frio invernal e aos poucos se refaz em uma nova planta. Hoje provocada pela brasilidade latino-americana e pela controvérsia do futebol, lançamos um olhar sobre os reflexos de um momento delicadamente histórico, tanto para o brasileiro como para os alemães. Alias, assistimos o jogo com um deles, alguém que não se sente menos gente ou mais gente por ter escolhido ver a copa. Alias, alemães gostam tanto de futebol quanto os brasileiros e não veem inconveniente ou vergonha nisso pois continuam sendo trabalhadores como os brasileiros o são e conseguem permanecer educados em situações como uma derrota humilhante ou uma vitorias extasiante, algo que aprenderam com duras lições da historia mundial recente.
O povo alemão já é versado em situações embaraçosas e nem por isso tirou o time de campo, e o que era um entediante trocar de pés para uma bola, transformou-se em uma batalha pela honra perdida de uma nação em lagrimas. Pelo obvio e pelo não, reiteramos que não somos nacionalistas, algo que não nos permitimos por nossa condição de nômades e como cidadãos do mundo. Procuramos pela socialização conhecer a diversidade do mundo e mostrar a nossa própria e isso também significa participar de um evento mundial sem hipocrisia ou moralismo.
Quando começava o primeiro tempo, aqui 10 horas da noite, sustera-se as respirações e um zumbido de suspiros enchiam o ar de apreensão, suspeitas e esperanças. De lado, foram postos credos, cores e partidos políticos em nome de 90 minutos de nada mais alem do que futebol, amplamente admirado pela simplicidades e ao mesmo tempo impregnado de discurso.
Aqui onde vivemos, Berlim, todos são, de maneira ou de outra estrangeiros mas a tendencia da torcida era obviamente a Alemanha e as cidade inteira gastava unida todos os seus fogos de artificio nos primeiros três gols. Durante os outros quatro ela calou e riu, até se sentiu embaraçada com a situação tão incomum.
10 Minutos depois do primeiro apito sofríamos o primeiro dos sete golpes que enchiam aqueles 90 minutos de terror. Para alguns, o golpe foi tamanho que a necessidade de se apontar os culpados os levava para campos que fugiam da amplitude de seu conhecimento enquanto para outros foi mesmo uma satisfação. Quem não gostava de futebol acendeu o holofote sobre si mesmo para mostrar os dentes para os demais. A felicidade de alguns é a tristeza de outros e vice-versa…
Pela língua dos pessimistas a copa fora um completo fracasso e o futebol passou a ter mais importância agora para aquele que antes dizia não gostar…. os valor mudaram.
Depois de findada a peleja, no meu facebook ainda tupiniquim, pude ver as mais variadas reações de quem compreensivelmente guardou tudo pra vomitar um – eu te disse… de qualquer jeito… ou de quem se solidarizou e riu da situação para continuar gozando a vida. Pessoas continuavam de mãos dadas enquanto outras terminaram a festa, mandaram os convidados embora e voltaram suas ânsia a procurar os culpados do fiasco nacional. Curioso foi que os rumores do fiasco se tornaram realidade naquilo que o brasileiro achou não ser o problema, nomeadamente o bom futebol. Como garotos que crescem saudáveis, cuidemos só de retomar a brincadeira depois de um tombo em um divertido banho de chuva. Depois dever de casa e cama.
O espetáculo ainda foi espetáculo e os problemas ainda continuam problemas. Alem de aprender futebol com os alemães, temos algo mais de bom para ganhar com a situação, uma lição teutônica de como deixar a passionalidade egocêntrica de lado e tratar os problemas como eles realmente são, colocando a paixão em segundo plano dentro do campo e tratando de não tomar 7 gols em nenhum aspecto da vida porque depois disso… o que resta ainda é torcer.